Os Olhos sem Rosto
Título original: Les Yeux sans visage
País: França/Itália
Ano: 1960
Gênero: Drama, suspense
Duração: 88 min
Direção: Georges Franju
Elenco: Pierre Brasseur, Alida Valli, Juliette Mayniel, Edith Scob, François Guérin, Alexandre Rignault, Béatrice Altariba e René Génin.
Sinopse: um famoso cirurgião (Pierre Brasseur), após desfigurar a filha num acidente de carro, lança-se no desenvolvimento de uma nova forma de transplante facial a partir de uma doadora viva, fato que o levava a matar suas pacientes para roubar-lhe os rostos. A técnica funcionou na sua assistente, mas o corpo da filha rejeita sucessivamente os novos rostos implantados, causando uma série infindável de crimes que logo chama a atenção da polícia, dando início às investigações.
Crítica: classificado como drama, suspense e terror (menos desse último), é sem dúvida um clássico. Traduz com elegância o desespero do pai assassino consumido pelo remorso e pela culpa e da filha na busca pelo que ela julga ser a felicidade.
A França do início nos anos 60 é bem caracterizada. A época em que foi filmado surpreende pelos planos impecáveis, diálogos enxutos, perfeito uso da fotografia em preto e branco, narrativa clássica, filosófica, repleta de sofisticação. A angústia das personagens e seus atos desesperados contagiam o espectador.
As interpretações são boas. A assistente (Alida Valli, que fez seu último trabalho em 2002) é responsável por atrair as futuras vítimas para a vila do médico, que servirão de cobaia. As mortes são feitas pelo doutor com toda a finesse, filmadas de maneira seca e sem sensacionalismo pelo diretor. O momento da cirurgia é um dos pontos altos da fita, onde o cirurgião, suando em bicas e tremendo, arranca o rosto das vítimas em cenas horripilantes e sensacionais, para o delírio dos fãs do gênero.
Enquanto isso, a filha vaga como um fantasma com sua máscara temível pela interminável casa, que teve todos os espelhos removidos. Só vemos sua deformação uma vez, quando ela se mostra para uma das “doadoras”. Como o pai testava suas fórmulas primeiro em cachorros, isso o obrigava a ter centenas deles no subsolo da casa. O latido infernal dos cães, quase em toda a trama, é uma das mais torturantes estratagemas e incomodam os espectadores.
Doutor e assistente vão ficando cada vez mais relapsos com as mortes, deixando um rastro de pistas, que logo a polícia decifra. Mas o interesse do diretor não é no desenvolvimento da parte policial da estória, mas da agonia interna de suas personagens tão dilaceradas como a carne das jovens desfiguradas.
Tudo isso embalado pela extraordinária trilha sonora do compositor francês Maurice Jarre, um dos grandes do cinema, que mais tarde ficaria famoso pelo Tema de Lara, do filme Doutor Jivago (ele foi indicado seis vezes ao Oscar, a última por Ghost - Do Outro Lado da Vida, e venceu em outras três vezes, todos por filmes de David Lean: Passagem para a Índia, Lawrence da Arábia e o citado Doutor Jivago).
O curioso é que a prática foi testada recentemente. O filme antecipou o futuro, fato que só acrescenta a essa obra embebida em melancolia mais significação, uma discussão sobre a beleza.
Mórbido e sensível ao mesmo tempo, a mensagem final é valiosa. Vale assistir a cada minuto dessa obra maravilhosa.
Avaliação: ***