Clássicos


Era uma Vez no Oeste (C'era una Volta il West)
País: Itália/EUA
Ano: 2012
Gênero: Faroeste
Duração: 165 min
Direção: Sérgio Leone
Elenco: Henry Fonda, Claudia Cardinale, Jason Robards, Charles Bronson, Gabriele Ferzetti, Paolo Stoppa, Frank Wolff, Keenan Wynn, Woody Strode e Jack Elam. 

Sinopse: em virtude das terras que possuía serem futuramente a rota da estrada de ferro, um pai e todos os filhos são brutalmente assassinados por um matador profissional. Entretanto, ninguém sabia que ele, viúvo há seis anos, tinha se casado com um prostituta de Nova Orleans, que passa ser a dona do local e recebe a proteção de um hábil atirador, que tem contas a ajustar com o frio matador.
Crítica: se tiver um filme que represente a filmografia de Leone como um todo, esse filme é ‘Era uma vez no Oeste’. Apaixonado por westerns desde a juventude, Sergio Leone decidiu inovar esse gênero (nos anos 60 já meio desgastado), injetando uma espécie de humor negro, um lado mais cru e violento e com personagens ambíguos, em que os status de bem e mal não eram suficientes para defini-los.
A trilogia dos dólares trouxe reconhecimento e respeito ao cineasta até então desconhecido aos olhos do mundo. Composta por ‘Um Punhado de Dólares’, ‘Por uns Dólares a Mais’ e ‘Três Homens e um Conflito’, todos estrelados pelo até então cara novo Clint Eastwood e rodados na Itália. Sobretudo nos dois primeiros, a ação é ininterrupta e há pouco espaço para os diálogos. Mas para muitos ‘Três Homens e um Conflito é o melhor dos três, mesmo possuindo inúmeros momentos de pausa, sem diálogo, mas tudo em volta de um duelo psicológico entre os protagonistas, que acabou rendendo inúmeros elogios e que serviria de base os próximos trabalhos de Leone.
Na trama de ‘Era uma Vez no Oeste’, três pistoleiros, entre eles o temido Frank (Henry Fonda, em seu primeiro papel de vilão e um dos melhores de sua carreira), são enviados para convencer um fazendeiro a ceder suas terras para a construção de uma enorme ferrovia que cruzará o oeste. Acabam matando o homem e seus filhos, numa sequência magistral, onde gradualmente é mostrado quem são os assassinos, sendo que, na época, os americanos ficaram chocados quando viram Henry Fonda como o vilão e matando a sangue frio a criança da família com um tiro. A viúva Jill (Claudia Cardinale), recém-chegada do leste e em busca de riquezas, decide ficar nas terras e se une a um pistoleiro misterioso (Charles Bronson, como mocinho) para ajudá-la na vingança. Também recebe ajuda do ambíguo Cheyenne (Jason Robards).
Mas quem espera encontrar aqui o ritmo veloz da trilogia dos Dólares, vai se assustar. O longa se eleva a níveis de uma ópera (embalado por uma trilha inesquecível de Ennio Morricone, fiel colaborador de Leone), é grandioso, lento (a abertura, em que os três homens esperam um trem dura 14 minutos, sem diálogos) e marcado por closes no rosto dos atores na cena de tiroteio. As filmagens tiveram lugar na Espanha e no Monument Valley, nos Estados Unidos, cenário dos grandes clássicos de John Ford como no ‘Tempo das Diligências’ e ‘Rastros do Ódio’.
Apesar da duração (são 165 min), tudo passa rapidamente, graças a um roteiro bem construído, direção excepcional de Leone, ótimas atuações e momentos chaves nos quais entraram para a história do cinema. Curiosamente, o filme não foi muito bem recebido na época de sua estreia em território americano, mas gradualmente foi conquistando cinéfilos, que foram entendendo a proposta que o diretor queria passar, que nada mais era do que uma declaração de amor ao gênero e das várias fases de sua história, culminando com um fim melancólico, porém justo. Se por um lado os americanos demoraram um pouco a compreendê-lo, em Paris, o filme ficou em cartaz mais de 40 semanas em uma sala na época, pois as pessoas não paravam de ir vê-lo duas ou três vezes.
Sergio Leone dirigiu pouco (nove filmes), e falou muito em cada uma de suas obras, e por isso mesmo, merece ser redescoberto pela nova geração de cinéfilos que aprecia filmes não importando qual a sua época.
Uma obra-prima do velho oeste, para ser contemplada sem pressa,
com os olhos bem abertos e os ouvidos bem atentos.
Avaliação: ****


O Fio da Navalha (The Razor’s Edge)
País: EUA
Ano: 1946
Gênero: Drama
Duração: 144 min
Direção: Edmund Goulding
Elenco: Tyrone Power, Gene Tierney, John Payne, Clifton Webb e Anne Baxter.

Sinopse: Larry Darrell (Tyrone Power) é um próspero morador de Chicago que rompe seu noivado com Isabel Bradley (Gene Tierney) e viaja pelo mundo, procurando esclarecimento interior, até que finalmente encontra seu guru na Índia. Paralelamente Isabel se casa com Gray Maturin (John Payne). Após o crash da bolsa em 1929, ela é convidada para viver em Paris com seu rico tio Elliott Templeton (Clifton Webb). Durante uma passagem por lá Larry, que tinha atingido seu objetivo, se reencontra com Isabel. Uma noite Larry, Isabel e amigos ficam chocados ao descobrir que Sophie Nelson (Anne Baxter), uma amiga de Chicago, tinha perdido o marido e sua criança em um trágico acidente e por causa disto estava vivendo com a ajuda de drogas. Larry tenta reabilitar Sophie, mas os esforços dele são sabotados por Isabel, que está enciumada, pois tem tentado em vão reacender o interesse de Larry por ela.
Crítica: adaptação do best-seller escrito pelo romancista Somerset Maugham que questiona os valores da sociedade. Narrado por Maugham (Herbert Marshall), um observador em cena, a história centra-se em um veterano da Primeira Guerra Mundial, Larry Darrell (Power), que descobre que não pode retornar para seu mundo de classe privilegiada. Fugindo de seu planejado casamento e carreira, ele viaja para outro país em busca de um significado para a vida, fazendo sua transtornada noiva (Tierney) buscar segurança junto a outro homem (John Payne).
O filme é dinâmico, com alguns cortes abruptos até demais, mas retrata bem a angústia do homem, que após voltar da guerra, busca um sentido para a existência.
As interpretações são boas e o espectador acompanha suas várias jornadas e como a vida pode dar voltas. Não há uma receita para a felicidade. O que existe é uma procura constante por ela.
Indicado para quatro categorias do Oscar, incluindo melhor filme. Anne Baxter levou a estatueta de atriz coadjuvante.
Avaliação: ***



O Homem das Novidades
Título original: The Cameraman
País: EUA
Ano: 1928
Gênero: Comédia, drama, romance
Duração: 67 min
Direção: Edward Sedgwick, Buster Keaton
Elenco: Buster Keaton, Marceline Day, Harold Goodwin e Sidney Bracey.

Sinopse: um fotógrafo (Keaton) deseja de aproximar da bela secretária do cinejornal da MGM, e para isso troca sua câmera fotográfica por uma câmera de cinema e se torna um cinegrafista.
Crítica: o grande rival de Charles Chaplin no cinema mudo está magnífico neste trabalho: tanto dirigindo quanto atuando.
Trágico e cômico, com um toque de romance, o filme comove e entretém. O personagem é tão marcante que por muito tempo ficará em nossa memória. Excelente e imperdível!
Curiosidade: ganhou o Oscar de melhor canção original, em 1972 – vinte anos após o lançamento oficial da película.
Avaliação: ****


Alemanha, Ano Zero
Título original: Germania Anno Zero
País: Itália
Ano: 1947
Gênero: Drama
Duração: 78 min
Direção: Roberto Rossellini
Elenco: Edmund Moeschke, Ingetraud Hinze, Franz-Otto Krüger, Ernst Pittschau, Erich Gühne, Alexandra Manys e Hans Sangen.

Sinopse: em Berlim, após o final da 2ª Guerra Mundial, Edmund (Edmund Moeschke), um garoto de uma família muito pobre, trabalha para sustentar o pai doente, sua pequena irmã e o irmão, que não tem documentos. Um dia, ao conversar com um antigo mestre (Erich Gühne), fala do seu pai enfermo e entende ter recebido um conselho para matar seu pai, um peso morto. Ele começa a pensar na idéia.
Crítica: um marco do neo-realismo italiano, chama a atenção pela narrativa agressiva, frieza e crueldade, procurando retratar os anos insanos da segunda guerra. Rodado realmente no cenário pós-guerra, onde quase toda a cidade de Berlim havia sido destruída, o longa mostra a fome e a miséria na Alemanha após a derrota e do que o homem é capaz para se manter vivo. Na época fora muito mais impressionante, mas ainda hoje é impactante. É um pouco lento, mas tem que se levar em conta a época em que foi feito e os recuros, então, disponíveis. O filme é falado todo em alemão, o que torna mais realista.
Avaliação: ***


A Malvada
Título original: All About Eve
País: EUA
Ano: 1950
Gênero: Drama
Duração: 138 min
Direção: Joseph L. Mankiewicz
Elenco: Bette Davis, Anne Baxter, George Sanders, Gary Merrill, Hugh Marlowe, Celeste Holm e Marilyn Monroe.

Sinopse: desde o momento em que vislumbra seu ídolo na porta do teatro, Eve Harrington (Anne Baxter) dirige-se impiedosamente rumo a seu objetivo: arrebatar as rédeas do poder da grande atriz Margo Channing (Bette Davis). A astuta Eve manobra seu caminho para tomar o lugar de Margo (Gary Merrill) na Brodway, causa sensação e interfere na vida do namorado de Margo, o escritor de suas peças (Hugh Marlowe) e sua esposa (Celeste Holm). Apenas o cínico crítico de teatro (George Sanders) consegue perceber as intenções de Eve, admirando sua audácia e o padrão perfeito de dissimulação.
Crítica: o diálogo é inteligente, os personagens são extraordinários, a direção é perfeita e a produção, uma das melhores da época. Além disso, a trama é bastante dinâmica, as atuações são convincentes, sobretudo a de Bette Davis.
Bem fotografado e dirigido, prende da atenção do início ao fim. E o mais importante: faz uma densa crítica, com um olhar bem sarcástico, à aura das estrelas, à ascensão ao estrelato e aos bastidores do show business. Ou seja, atual até hoje.
Excelente!
Curiosidade: vencedor do Oscar (1951) em seis categorias: Melhor Filme, Melhor Ator Coadjuvante (George Sanders), Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Som e Melhor Figurino – preto-e-branco.
Avaliação: ****


Luzes da Ribalta
Título original: Limelight
País: EUA
Ano: 1952
Gênero: Comédia, drama
Duração: 132 min
Direção: Charles Chaplin
Elenco: Charles Chaplin, Nigel Bruce, Buster Keaton, Norman Lloyd, Claire Bloom e Marjorie Bennett.

Sinopse: Calvero (Charles Chaplin) é um palhaço em decadência que nutre um amor por Thereza (Claire Bloom), uma bailarina que está superando as dificuldades após uma tentativa de suicídio. Ela perde as esperanças achando que não consegue mais dançar, mas Calvero a incentiva de todas as formas, tentando dar confiança a Thereza para continuar dançando.
Crítica: o cinema de Chaplin sempre contou com uma fórmula infalível que abrangia elementos distintos, mas que misteriosamente funcionavam em perfeita sintonia quanto juntos, como humor, melancolia, otimismo, sátira e arte. Claro que, aos olhos dos mais desatentos, o que sempre se sobressaiu nesse meio foi a comédia. De fato, a comédia é o ingrediente principal dessa fórmula, mas não funcionaria tão bem sem os elementos secundários. Com o passar dos anos e com a banalização de muitos diante de seu cinema, Chaplin foi perdendo aos poucos seu apurado senso de humor para dar lugar à melancolia. No fim de sua carreira, portanto, só conseguimos notar filmes focados em premissas deprimentes e amargas. Em ‘Luzes da Ribalta’, o mais lírico e também mais triste filme de sua carreira, Chaplin se rende depois de anos lutando por seus ideais.
A vida dos dois personagens é tão miserável que fica impossível não se sentir incomodado. As semelhanças com a vida de Chaplin vêm à tona. Chaplin também era um comediante em decadência e via todo seu legado ir pelo ralo com o surgimento do cinema falado, que matou seu personagem mais famoso, o Vagabundo (inclusive Calvero, em alguns momentos, imita alguns trejeitos do personagem e até se autodenomina de vagabundo). O mundo tinha acabado de se recuperar dos destroços da Segunda Guerra Mundial e parecia não ter aprendido nada. A América o exilou do país e o obrigou a se refugiar na Europa e, de repente, tudo o que ele havia batalhado para construir no cinema estava ficando para trás. O humor dele estava caindo em repetição e já não agradava a nova geração, que só queria saber da "novidade" dos filmes falados e coloridos. Chaplin já não era o maior nome do cinema e o mundo lhe tinha dado as costas.
A situação não é diferente para a personagem de Claire Bloom, Terry. Para construir a personagem, Chaplin se baseou na vida de sua mãe, que era uma famosa cantora e atriz, mas que perdeu tudo depois de contrair uma doença na laringe e perder sua voz, sendo rapidamente substituída e esquecida, assim como aconteceu com Terry depois de perder o funcionamento de suas pernas. No caso da mãe de Chaplin, ela enlouqueceu e foi mandada para um asilo. Para Terry, Chaplin inventou Calvero, uma salvação que ele gostaria de ter sido para sua mãe.
Repleto de um tipo de beleza triste, Luzes da Ribalta é, de certa forma, uma despedida de Chaplin ao mundo, embora tenha ainda realizado outros filmes depois. Trata-se de uma cinebiografia disfarçada, onde o cineasta expõe tudo o de mais importante que já passou por sua vida, assim como expõe sua visão do mundo, sempre esperançosa apesar das oposições. Mais do que isso, é um legado que ele deixa a todos os artistas, que sabem como é difícil seguir esse rumo, mas que não podem escapar de sua sina.
Avaliação: ****


Tudo o que o Céu Permite
Título original: All That Heaven Allows
País: EUA
Ano: 1955
Gênero: Drama, romance
Duração: 89 min
Direção: Douglas Sirk
Elenco: Jane Wyman, Rock Hudson, Agnes Moorehead, Conrad Nagel, Virginia Grey, Gloria Talbott, William Reynolds, Charles Drake e Hayden Roarke.

Sinopse: Cary Scott (Jane Wyman) é uma respeitável viúva da alta classe média, que sente-se frustrada mas reencontra o amor ao se apaixonar por Ron Kirby (Rock Hudson), seu jardineiro. Apesar de ser 15 anos mais velha e ter um casal de filhos já crescidos, ela decide assumir esta paixão. Entretanto Cary encontra preconceito em vários de seus amigos íntimos e até mesmo nos filhos, que não aceitam que a mãe tenha tal relação.
Crítica: o cineasta dinamarquês tem um estilo singular de filmar: abusa da situação dramática e exagera nas cores fortes para atacar, nessa trama, a hipocrisia social que impede relacionamentos amorosos entre pessoas de classes sociais diferentes. Cary é a uma viúva na faixa dos 40 anos, de quem se espera que viva de forma recatada e solitária. Ela frequenta um clube para pessoas de meia-idade e vai a jantares com outras viúvas. Todos imaginam que acabará casando novamente com algum aposentado – tem até um pretendente. É uma vidinha sem graça, e ela sabe muito bem disso. A aparição do jovem Ron (Rock Hudson), um jardineiro bonito e pobre que não liga para a diferença de idade entre os dois, faz a mulher balançar. O flerte, porém, escandaliza tanto a família quanto os amigos dela.
O roteiro é muito bom e a simplicidade com que retrata o conflito agrada o espectador, sobretudo quem já tenha sentido na pele o preconceito. É justamente por isso que o longa-metragem se tornou, ao longo do tempo, um dos favoritos de cinéfilos que defendem as minorias.
Avaliação: ***


O Sétimo Selo (Det sjunde inseglet)
País: Suécia
Ano: 1956
Gênero: Drama
Duração: 96 min
Direção: Ingmar Bergman
Elenco: Gunnar Björnstrand, Bengt Ekerot, Nils Poppe, Max von Sydow, Bibi Andersson e Inga Gill.

Sinopse: após dez anos, um cavaleiro (Max Von Sydow) retorna das Cruzadas e encontra o país devastado pela peste negra. Sua fé em Deus é sensivelmente abalada e enquanto reflete sobre o significado da vida, a Morte (Bengt Ekerot) surge à sua frente querendo levá-lo, pois chegou sua hora. Objetivando ganhar tempo, convida-a para um jogo de xadrez que decidirá se ele parte com a Morte ou não. Tudo depende da sua vitória no jogo e a Morte concorda com o desafio, já que não perde nunca. baseado numa peça de teatro de autoria do diretor, o filme ambienta-se em um dos mais obscuros e apocalípticos períodos da Idade Média europeia. O título é uma remissão ao livro bíblico denominado Apocalipse ou Revelação. Segundo esta escritura, na mão de Deus há um livro selado com sete selos e a abertura de cada um destes selos implica num malefício sobre a humanidade, mas a abertura do sétimo é o que leva efetivamente ao fim dos tempos.
Crítica: no desenrolar do enredo torna-se clara a preocupação do diretor em buscar, no passado, um período que traga à tona questões ainda presentes no mundo contemporâneo. Ao fazê-lo, Bergman reconstituiu a Idade Média sueca não para tematizá-la em si, ainda que o trabalho de pesquisa histórica e de reconstrução da sociedade daquela época tenha sido cuidadosamente preparado, mas, principalmente, para expor as aflições do mundo em que vivia. Destarte, Bergman busca no mundo medieval o medo apocalíptico, seja o temor de que o mundo pode acabar de repente ou de que ele seja dizimado gradualmente pela peste, o que acaba por expor a preocupação própria do diretor com essa mesma questão.
O Sétimo Selo tem por tema fundamentalmente a questão do medo da morte; um cavaleiro que volta da Cruzada da Fé para encontrar em sua terra a peste e morte. Quando ele mesmo se depara com a personificação da morte, aceita-a como um visitante esperado, mas propõe-lhe uma negociação – numa disputa de xadrez – para que possa ganhar tempo e indagar sobre o sentido da vida e, consequentemente, o sentido da morte. Dessa forma, abre-se uma pausa no caminho da morte para vermos qual é o sentido da aflição que está sendo promovida e qual o caminho possível para fugir desse destino. O jogo de xadrez aparece talvez como uma alegoria da busca do cavaleiro a um entendimento da vida através da racionalidade que, ao final do filme, fica evidente que não seria possível, assim como, o cavaleiro mesmo percebe, não seria possível vencer a Morte.
No mundo medieval tudo era entendido através da religião, então o sentido da indagação do cavaleiro é questionar a religiosidade, incluindo o papel de Deus e do Diabo na vida humana. No filme, todos os aspectos da religiosidade são questionados, porém nunca é dada nenhuma resposta sobre sua veracidade. Nem Deus nem o Diabo se manifestam para o cavaleiro ou durante todo o filme, porém homens aparecem pregando, teatralizando e punindo em nome do sagrado. O personagem que sempre aparece para falar em nome de Deus é o homem que roubava joias dos mortos e que encabeça a procissão de flagelados, também foi aquele que convenceu o cavaleiro a partir para a cruzada, dez anos antes. Dessa forma, vemos como o sagrado é mudo neste filme; tanto Deus como o Diabo apenas existem na voz dos charlatães, em nome de uma igreja decadente – porque não consegue explicar a peste negra – e como formas de opressão.
Apesar da temática interessante e do ponto de vista crítico, o filme segue lentamente e com diálogos e interpretações bastante teatrais, faltando ritmo e fluidez à trama.
Avaliação: **



As Noites de Cabíria
Título original: Le Notti di Cabiria
País: Itália/França
Ano: 1957
Gênero: Drama
Duração: 110 min
Direção: Federico Fellini
Elenco: Giulietta Masina, Aldo Silvani, François Périer, Oscar D'Onofrio, Amedeo Nazzari, Alberto Lazzari, Franca Marzi, Dorian Gray, Mario Passante e Ennio Girolami

Sinopse: Cabíria (Giulietta Masina) é uma prostituta que ganha a vida nas ruas de Roma em meados dos anos 50. Ingênua, ela sonha com o amor perfeito e acredita na bondade das pessoas. Por isso, sofre constantemente desilusões. Em suas andanças pela noite romana, ela se envolve com um astro de cinema em crise conjugal e, também, com um contador, que parece amá-la de verdade. Será que o destino só guarda desencantos para a pobre Cabíria?
Crítica: aqui Fellini já mostra que logo chegaria ao auge. O filme é marcante e é impossível ficar indiferente à história e aos seus personagens. A trama é incrivelmente dinâmica e nos faz mergulhar na vida de Cabíria, que nos engana assim como ela é enganada e iludida por acreditar que a felicidade completa existe. Um final amargo nos aguarda, mas as ótimas performances dos atores compensam. O figurino de Cabíria é inesquecível. Um clássico que merece ser conferido.
Avaliação: ***


Morangos Silvestres
Título original: Smultronstället
País: Suécia
Ano: 1957
Gênero: Drama
Duração: 91 min
Direção: Ingmar Bergman
Elenco: Gunnar Björnstrand, Bibi Andersson, Victor Sjöström, Ingrid Thulin, Gunnar Sjöberg, Jullan Kindahl, Folke Sundquist e Max von Sydow.

Sinopse: o velho professor Isak Borg (Victor Sjöström) viaja de carro para uma universidade para receber uma homenagem. No caminho, depara-se com estranhos e parentes, o que faz ele reviver velhos momentos de sua vida e tentar descobrir o significado de estranhos sonhos que vinha tendo.
Crítica: uma hora e meia de pura filosofia sobre vida, morte, religião e lembranças passadas. E, por isso mesmo, talvez canse os mais desavisados. É pura reflexão cinematográfica. Uma história simples explorada de forma complexa. Mesmo levando-se em conta a época em que foi produzido, mais dinamismo daria à trama outra faceta e sem prejudicá-la. As atuações são um pouco teatrais.
Avaliação: **


Os Olhos sem Rosto
Título original: Les Yeux sans visage
País: França/Itália
Ano: 1959
Gênero: Drama, suspense
Duração: 88 min
Direção: Georges Franju
Elenco: Pierre Brasseur, Alida Valli, Juliette Mayniel, Edith Scob, François Guérin, Alexandre Rignault, Béatrice Altariba e René Génin.

Sinopse: um famoso cirurgião (Pierre Brasseur), após desfigurar a filha num acidente de carro, lança-se no desenvolvimento de uma nova forma de transplante facial a partir de uma doadora viva, fato que o levava a matar suas pacientes para roubar-lhe os rostos. A técnica funcionou na sua assistente, mas o corpo da filha rejeita sucessivamente os novos rostos implantados, causando uma série infindável de crimes que logo chama a atenção da polícia, dando início às investigações.
Crítica: classificado como drama, suspense e terror (menos desse último), é sem dúvida um clássico. Traduz com elegância o desespero do pai assassino consumido pelo remorso e pela culpa e da filha na busca pelo que ela julga ser a felicidade.
A França do início nos anos 60 é bem caracterizada. A época em que foi filmado surpreende pelos planos impecáveis, diálogos enxutos, perfeito uso da fotografia em preto e branco, narrativa clássica, filosófica, repleta de sofisticação. A angústia das personagens e seus atos desesperados contagiam o espectador.
As interpretações são boas. A assistente (Alida Valli, que fez seu último trabalho em 2002) é responsável por atrair as futuras vítimas para a vila do médico, que servirão de cobaia. As mortes são feitas pelo doutor com toda a finesse, filmadas de maneira seca e sem sensacionalismo pelo diretor. O momento da cirurgia é um dos pontos altos da fita, onde o cirurgião, suando em bicas e tremendo, arranca o rosto das vítimas em cenas horripilantes e sensacionais, para o delírio dos fãs do gênero.
Enquanto isso, a filha vaga como um fantasma com sua máscara temível pela interminável casa, que teve todos os espelhos removidos. Só vemos sua deformação uma vez, quando ela se mostra para uma das “doadoras”. Como o pai testava suas fórmulas primeiro em cachorros, isso o obrigava a ter centenas deles no subsolo da casa. O latido infernal dos cães, quase em toda a trama, é uma das mais torturantes estratagemas e incomodam os espectadores.
Doutor e assistente vão ficando cada vez mais relapsos com as mortes, deixando um rastro de pistas, que logo a polícia decifra. Mas o interesse do diretor não é no desenvolvimento da parte policial da estória, mas da agonia interna de suas personagens tão dilaceradas como a carne das jovens desfiguradas.
Tudo isso embalado pela extraordinária trilha sonora do compositor francês Maurice Jarre, um dos grandes do cinema, que mais tarde ficaria famoso pelo Tema de Lara, do filme Doutor Jivago (ele foi indicado seis vezes ao Oscar, a última por Ghost - Do Outro Lado da Vida, e venceu em outras três vezes, todos por filmes de David Lean: Passagem para a Índia, Lawrence da Arábia e o citado Doutor Jivago).
O curioso é que a prática foi testada recentemente. O filme antecipou o futuro, fato que só acrescenta a essa obra embebida em melancolia mais significação, uma discussão sobre a beleza.
Mórbido e sensível ao mesmo tempo, a mensagem final é valiosa. Vale assistir a cada minuto dessa obra maravilhosa.
Avaliação: ***


Os Primos
Título original: Les Cousins
País: França
Ano: 1959
Gênero: Drama
Duração: 112 min
Direção: Claude Chabrol
Elenco: Jean-Claude Brialy, Stéphane Audran, Gérard Blain, Juliette Mayniel, Claude Cerval, Geneviève Cluny, Françoise Vatel, Jean-Pierre Moulin e Michèle Méritz.

Sinopse: ao visitar seu primo mulherengo que mora em Paris, jovem do interior, tímido e sonhador, acaba se apaixonando por uma das namoradas do companheiro.
Crítica: é mais um excelente filme de Claude Chabrol. Um dos principais pontos a serem destacados nesta sua obra do final dos anos 50 é a forma como ele consegue captar de forma brilhante a mudança de comportamento do personagem central, Charles, um jovem sério, sincero e ingênuo, que deixa a cidade pequena do interior para viver com o primo playboy, partidário da “dolce vita”, num apartamento de Paris. Essa mudança fica bastante clara no final do filme, quando, sem nenhuma explicação, Charles pega um revólver e, por pouco, não mata friamente o seu primo. Ali, morre a inocência e nasce a violência e crueldade.
Uma direção certeira, uma excelente história e uma bela fotografia. Além disso, Gérard Blain e Jean-Claude Brialy (respectivamente nos papeis de Charles e Paul) fazem grandes atuações.
Avaliação: *** 


Ben-Hur
Título original: Ben-Hur
País: EUA
Ano: 1959
Gênero: Épico
Duração: 223 min
Direção: William Wyler
Elenco: Charlton Heston, Jack Hawkins, Haya Harareet, Hugh Griffith e Stephen Boyd.

Sinopse: em Jerusalém no início do século I vive Judah Ben-Hur (Charlton Heston), um rico mercador judeu. Mas, com o retorno de Messala (Stephen Boyd), um amigo da juventude que agora é o chefe das legiões romanas na cidade, um desentendimento devido a visões políticas divergentes faz com que Messala condene Ben-Hur a viver como escravo em uma galera romana, mesmo sabendo da inocência do ex-amigo. Mas o destino vai dar a Ben-Hur uma oportunidade de vingança que ninguém poderia imaginar.
Crítica: filmes longos demais, às vezes, podem ser difíceis de assistir, mas não é o caso do épico mais bem realizado e consistente da história do cinema. Tanto que serve de modelo até hoje para muitos épicos.
Dirigido por William Wyler, é a segunda versão adaptada para o cinema do livro homônimo do Coronel Lew Wallace (a primeira foi em 1925, sendo que o filme era mudo, mas também marcou época)
A beleza das cenas, levando-se em conta a escassez de recursos (não se compara ao que temos disponível atualmente) e os padrões de outrora, é espetacular.
Sempre constando nas listas das melhores películas de todos os tempos, Ben-Hur se destacou também pela sua história, fictícia, confundir-se com a de Jesus no tempo de sua pregação e crucificação (um dos momentos mais incríveis do filme).
Enfim, uma produção cinematográfica maravilhosa, uma história grandiosa e um elenco sublime. Nem parece que foi idealizado há mais de 50 anos.
Curiosidade: os números mostram realmente a grandeza desse épico: foram usados 100 mil figurinos, oito mil figurantes e mais de 300 sets de filmagem. Sem contar que o orçamento usado para realizá-lo transformou-o no maior filme de todos os tempos, em sua época.
Outro número impressionante é o de Oscars que arrebatou em 1960: além de Melhor Ator (Charlton Heston), Melhor Diretor e, claro, Melhor Filme, ele ainda levou as estatuetas de Melhor Ator Coadjuvante (Hugh Griffith), Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia, Melhor Figurino, Melhor Montagem, Melhor Trilha Sonora de Drama, Melhor Som e Melhores Efeitos Especiais. Deixou de ganhar apenas o de melhor roteiro adaptado. Foram 11 no total, valor só igualado 38 anos depois, com Titanic.
Avaliação: *****


Exodus
Título original: Exodus
País: EUA
Ano: 1960
Gênero: Ação, drama, guerra
Duração: 208 min
Direção: Otto Preminger
Elenco: Paul Newman, Eva Marie Saint, Ralph Richardson, Peter Lawford, Lee J. Cobb, John Derek, Hugh Griffith, Sal Mineo, Gregory Ratoff, Felix Aylmer, David Opatoshu, Marius Goring, Jill Haworth, Alexandra Stewart e Michael Wager.

Sinopse: inspirado no best-seller internacional de Leon Uris, o filme conta a história de Ari Bem Canaan (Paul Newman), lider da resistência israelense, que consegue levar 600 judeus dos campos de detenção de Chipre, conduzindo-os a um grande cargueiro com destino à Palestina. Mas forças britânicas logo são informadas sobre seu plano e insistem para que ele desista. Sem se deixar intimidar, Ari e seus passageiros recusam-se a desistir a arriscam suas vidas pelo grande ideal da independência israelense.
Crítica: comovente e bem dirigido. Apesar de não superar a obra literária, devido a alguns cortes, tentou manter-se o máximo possível fiel aos fatos e transmitiu a história.
O elenco poderia ter sido melhor selecionado. Mas levando-se em conta o todo, é um excelente filme. Uma refilmagem dele não seria má ideia. Com mais recursos cinematográficos, o enredo ganharia novo brilho. 
Curiosidade: vencedor do Oscar na categoria de Melhor Trilha Sonora, em 1961.
Avaliação: ****




Psicose
Título original: Psycho
País: EUA
Ano: 1960
Gênero: Suspense
Duração: 109 min
Direção: Alfred Hitchcock
Elenco: Anthony Perkins, Vera Miles, John Gavin, Janet Leigh, Martin Balsam, John McIntire, Simon Oakland, Frank Albertson, Patricia Hitchcock, Vaughn Taylor, Lurene Tuttle e John Anderson.

Sinopse: a secretária (Janet Leigh) rouba 40 mil dólares para se casar. Durante a fuga, erra o caminho e chega em um velho motel, onde é amavelmente atendida pelo dono (Anthony Perkins), mas escuta a voz da mãe do rapaz, dizendo que não deseja a presença de uma estranha. Mas o que ouve é na verdade algo tão bizarro, que ela não poderia imaginar que não viveria para ver o dia seguinte.
Crítica: é inegável que ‘Psicose’ é um dos melhores filmes de suspense e que Hitchcock é um gênio desse gênero. Ele conseguiu criar um clima tenso e dar, com as tomadas em preto e branco, um charme especial à trama.
Anthony Perkins tem um grande momento na sua carreira como o atormentado Norman Bates. Janet Leigh, com a clássica cena do chuveiro, é inesquecível. E o final surpreendente é imperdível.
Avaliação: **** 




O Homem do Prego
Título original: The Pawnbroker
País: EUA
Ano: 1964
Gênero: Drama
Duração: 114 min
Direção: Sidney Lumet
Elenco: Rod Steiger, Geraldine Fitzgerald, Brock Peters, Jaime Sánchez, Thelma Oliver, Marketa Kimbrell, Baruch Lumet, Juano Hernandez, Linda Geiser e Nancy R. Pollock. 

Sinopse: Sol Nazerman (Rod Steiger) é um sobrevivente do Holocausto nazista e hoje vive como operador de uma casa de penhores em Nova York. Ainda sob o trauma da guerra, tem lembranças constantes de seus terríveis momentos no campo de concentração. Este foi um dos primeiros filmes produzidos a tratar do tema dos sobreviventes do Holocausto na Alemanha de Hitler.
Crítica: a performance excelente de Rod Steiger, ainda que um pouco exagerada, é a marca registrada da película. Convincente, ele tem flashes de memória que o levam a um passado terrível, passado esse que interfere brutalmente na sua vida.
Um roteiro maduro e bem articulado, com um ritmo que não deixa o espectador esperando. Duas cenas dão o tom da trágica realidade do protagonista: quando conversa num parque com uma senhora e quando explica a seu funcionário o que é ser judeu.
A impressão que fica é de dor, solidão, desamparo e perda, sentimentos perfeitamente transmitidos pelo personagem Sol Nazerman.
Foi um dos primeiros filmes a abordar os traumas de quem viveu o Holocausto.
Avaliação: ***


O Absolutismo – A Ascenção de Luís XIV
Título original: La prise de pouvoir par Louis XIV
País: França
Ano: 1966
Gênero: Drama
Duração: 94 min
Direção: Roberto Rossellini
Elenco: Jean-Marie Patte, Raymond Jourdan, Silvagni, Katharina Renn, Dominique Vincent, Pierre Barrat, Fernand Fabre, Françoise Ponty, Joëlle Laugeois, Maurice Barrier, André Dumas, François Mirante, Pierre Spadoni, Roger Guillo e Louis Raymond.

Sinopse: retrata os primeiros anos do reinado do "Rei Sol", Luís XIV (1643-1715), o maior monarca absolutista da França. França, 1661. Com a morte do Cardeal Mazarino (Silvagni), que controlava os assuntos de Estado, o Rei Luís XIV (Jean-Marie Patte) decide que reinará sozinho, encarregando-se pessoalmente de suas relações com a nobreza e a burguesia e dispensando o Parlamento. Inicia-se assim o apogeu do Absolutismo.
Crítica: levando-se em conta o ano em que foi realizado (1966), podemos afirmar que o longa é bem filmado e que preocupou-se com inúmeros detalhes dos figurinos e cenários.
Com realismo, o diretor fez uma impecável reconstituição da época, mostrando episódios históricos, como a construção do Palácio de Versalhes e o cotidiano da corte real, com seus exuberantes banquetes. Uma indispensável lição de história.
Uma obra mais atual e com mais recursos cinematográficos seria muito bem-vinda.
Curiosidade: este DVD traz ainda um depoimento de Renzo Rossellini, colaborador e filho do cineasta.
Avaliação: ***


O Poderoso Chefão I
Título original: The Godfather
País: EUA
Ano: 1972
Gênero: Crime, drama
Duração: 175 min
Direção: Francis Ford Coppola
Elenco: Marlon Brando, Al Pacino, James Caan, Richard Castellano, Robert Duvall, Sterling Hayden, John Marley, Richard Conte, Al Lettieri, Diane Keaton, Abe Vigoda, Talia Shire, Gianni Russo, John Cazale e Rudy Bond.

Sinopse: retrata a história da família Corleone e uma disputa entre os mafiosos e um bando de gângsters que pretende vender drogas em Nova York.
Crítica: “O Poderoso Chefão” deixou muitas marcas na história do cinema, como a cena do cavalo e a do pedágio, e até mesmo o modo de agir dos Dons Vito e Michael inspiram até hoje as atuações dos mafiosos do cinema e da televisão. No entanto, Coppola fez o que alguns consideram ser o mais difícil: superar a popularidade do livro, apesar de este ser um best-seller, o mais conhecido do gênero.
Um clássico perfeito!
Curiosidade: venceu o Oscar (1973) de Melhor filme, Melhor ator (Marlon Brando) e Melhor Roteiro Adaptado.
Avaliação: *****

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