domingo, 20 de julho de 2008

O Advogado do Terror

Título original: L'Avocat de la Terreur
País: França
Ano: 2007
Gênero: Documentário
Duração: 135 min
Direção: Barbet Schroeder
Elenco: Jacques Vergès, Klaus Barbie, Abderrahmane Benhamida, Bachir Boumaâza, Isabelle Coutant-Peyre, Guillaume Durand, Lionel Duroy, Hans-Joachim Klein, Magdalena Kopp, Gilles Menage, Anis Naccache, Barbet Schroeder, Siné, Maître Brahimi e Martine Tigrane.

Sinopse: documentário sobre a vida de Jacques Vergès, ex-guerrilheiro das Forças de Libertação da França e controverso advogado que tem como especialidade defender as figuras mais impopulares do mundo, como o nazista criminoso de guerra Klaus Barbie e o insano Roger Garaudy, que prega o anti-semitismo sob o argumento de que o Holocausto é uma invenção.

Crítica: a carreira de Jacques Vergès não é matéria para um documentário, mas para uma série. O advogado de Milosevic, de Roger Garaudy (que negou a existência do Holocausto), de diversos ditadores africanos, serial killers e terroristas internacionais é um ponto onde se cruzam inúmeras histórias candentes da política mundial nos últimos 50 anos. Em ‘O Advogado do Terror’, Barbet Schroeder faz o que pode para dar uma idéia aproximada desse super-personagem.

Para começar, concentra sua abordagem em três grandes casos. O primeiro definiria parte de seu destino pessoal e forneceria uma prerrogativa ideológica para tudo o que viria depois. Ainda jovem advogado em Paris, na década de 1950, Vergès foi chamado a Argel para defender heróis da resistência e se apaixonou por Djamila Bouhired, especializada em atentados a bomba. A luta anticolonialista, mediante raciocínios não pouco tortuosos, justificaria as futuras posições de Vergès em defesa não só de combatentes palestinos como de guerrilheiros do Baader-Meinhof. Ele próprio chegou a figurar numa lista de morte do serviço secreto francês.

O segundo grande caso coberto pelo filme é o da defesa de Klaus Barbie, o “carniceiro de Lyon”, quando Vergès canalizou seu ressentimento contra a França colonialista. Conseguiu mudar o cenário do julgamento, mas não livrou Barbie da prisão perpétua (estranhamente, o filme não menciona esse desfecho, talvez por considerá-lo sobejamente conhecido). Por fim, num dos mais melodramáticos de seus envolvimentos afetivos com os clientes, ele tornou-se amigo íntimo dos terroristas Carlos, o Chacal, e Magdalena Kopp, casados entre si.
Mesmo atendo-se a esses episódios, o documentário vencedor do César de 2007 traz uma abundância de informações e conexões que exige atenção redobrada do espectador. O risco é de se perder dados preciosos – e espantosos – como a parceria entre ex-líderes nazistas e guerrilheiros do Oriente Médio.

Em boa parte do documentário, investiga-se um misterioso desaparecimento de Vergès entre 1970 e 78. Considerando suas relações com governos que iam da Alemanha Oriental à China maoísta e ao Camboja de Pol Pot, não é de todo improvável que ele pudesse estar dando consultoria jurídica em Marte, o planeta vermelho.

O diretor não economiza meios para chegar até onde a informação está. Filma numa cabana na selva cambojana, no gabinete de um político no Líbano e no endereço secreto de Hans-Joachim Klein (terrorista arrependido e ex-motorista de Sartre). Grava um telefonema com Carlos na prisão. Entrevista Yacef Saadi, herói da independência argelina (inspirador e protagonista de A Batalha de Argel) e uma constelação de famosos clientes e amigos de Vergès. Só não logrou penetrar na redoma em que se pôs Djamila Bouhired.

Nesse dossiê caudaloso e absorvente, o caráter de Jacques Vergès permanece como encoberto por um véu. Às perguntas mais indesejadas ele responde com um monossílabo arrematado por uma baforada do charuto e um curto sorriso astucioso que não anima ninguém a prosseguir no assunto. Mas de tudo o que diz não é difícil extrair seu lema. Vergès gosta de defender o indefensável.

O Direito tem sido sua tribuna para uma ação que mistura paixão política e vaidade pessoal. Recentemente, ofereceu-se para representar Saddam Hussein (mas foi recusado) e no momento defende Khieu Samphan, alto oficial do Khmer Vermelho (os dois juntos na foto à esquerda, de Stéphanie Giry). “Eu defenderia até Bush, desde que ele assumisse sua culpa”, diz a certa altura do filme.

Schroeder faz seu perfil à revelia de julgamentos morais ou ideológicos. Lança um olhar seco, inteligente e impassível, um pouco como o olhar de Vergès em suas tribunas.

Curiosidade: existe na França uma versão em DVD com 4 horas de duração.
Avaliação: ****

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sexta-feira, 18 de julho de 2008

Como Eu Festejei o Fim do Mundo

Título original: Cum Mi-am petrecut sfarsitul lumii
País: Romênia/França
Ano: 2006
Gênero: Drama
Duração: 106 min
Direção: Catalin Mitulescu
Elenco: Doroteea Petre, Timotei Duma, Ionut Becheru, Jean Constantin, Grigore Gonta, Mircea Diaconu, Marius Stan e Nicolae Praida.

Sinopse: um testemunho de que o poder do amor transcende as mais trágicas circunstâncias. É a história da adolescente Eva e de seu irmão mais novo Lalalilu nos meses que conduziram à deposição do ditador romeno Nicolau Ceausescu. Eva e seu namorado aventureiro Alexandru envolvem-se num grave problema quando, acidentalmente, quebram o busto do ditador na escola. Eva arca com a maior punição: é expulsa da União de Jovens Comunistas e mandada para um reformatório. Lá, encontra o estranho Andrei, cujos pais são acusados de envolvimento num complô contra Ceausescu. Os dois se tornam amigos.
Crítica: um filme alternativo, que mesmo sendo produzido por um dos maiores cineastas romenos de todos os tempos, tem uma história maçante e desinteressante para o público em geral.
A fita mostra a vida de uma famíla porbre na Romência, tendo como pano de fundo a história do cruel ditador romeno, Nicolau Ceausescu. Muitas cenas acontecem rapidamente, sem informar muito ao espectador o que se passa e, então, o público fica perdido em meio à trama.
Com certeza, é um longa valioso para os romenos. Porém, a falta de detalhes mais expressivos, de ação ou de um enredo mais consistente que prenda a atenção de quem o assiste o tornam um filme chato e arrastado.
Um ponto positivo do filme são as atuações dos irmãos, interpretados por Doroteea Petre e o pequeno Timotei Duma.
Avaliação: *

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quinta-feira, 10 de julho de 2008

O Guerreiro Genghis Khan

Título original: Mongol
País: Cazaquistão/Rússia/Mongólia/Alemanha
Ano: 2007
Gênero: Drama
Duração: 120 min
Direção: Sergei Bodrov
Elenco:Tadanobu Asano, Honglei Sun, Aliya, Tegen Ao, Ying Bai, Khulan Chuluun, Ba Sen, He Qi, Amadu Mamadakov, Ben Hon Sun, Ji Ri Mu Tu, You Er, Ba Tu, Deng Ba Te Er, Bao Di e Bayertsetseg Erdenebat.

Sinopse: reconstituição dos primeiros anos de vida de Genghis Khan (Tadanobu Asano), escravo que se tornou um dos maiores conquistadores de todos os tempos. Ele chegou a dominar metade do mundo conhecido até então, incluindo a Rússia no ano de 1206.

Crítica: trata-se de um épico. Há várias batalhas muito bem dirigidas e com movimentos plásticos, em que o espectador pode ter um pouco de noção de estratégias militares.
Por ser a história de um herói nacional, o espectador poderá notar que fatos concretos misturam-se a contos lendários de Genghis Khan. As mais de duas horas de duração contam um enredo longo e que pode ser cansativo para quem não for um grande entusiasta do gênero. Um roteiro mais centrado teria dado um resultado melhor.
O início da obra retrata os mongóis como um bando de tribos nômades disputando, quase em desespero, os recursos necessários à sobrevivência. No final, veremos o início de sua unidade (o filme narra a infância e juventude de Temudjin) – e a narração nos lembra o que ocorreu depois, a unificação, sob o Grande Khan, de metade do mundo então conhecido.

Curiosidade: há uma grande batalha em que foram escalados 1.500 figurantes para serem cavaleiros, mas ninguém sabia cavalgar. Todos receberam dois meses de treinamento em montaria.
Algumas locações eram tão isoladas que foram construídas estradas para que os profissionais e o equipamento de filmagem fossem transportados.
As leis chinesas proíbem a confecção de locações artificiais, por isso, muitos vilarejos foram construídos com materiais reais (tijolos, pedras, etc.).

Avaliação: ***

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sábado, 5 de julho de 2008

O Escafandro e a Borboleta

Título original: Le Scaphandre et le Papillon
País: França
Ano: 2007
Gênero: Drama
Duração: 112 min
Direção: Julian Schnabel
Elenco: Mathieu Amalric, Emmanuelle Seigner, Marie-Josée Croze, Anne Consigny, Patrick Chesnais, Niels Arestrup, Olatz Lopez Garmendia, Jean-Pierre Cassel, Marina Hands, Max Von Sydow, Isaach De Bankolé, Emma de Caunes, Jean-Philippe Écoffrey, Nicolas Le Riche, Lenny Kravitz e Michael Wincott.

Sinopse: Jean-Dominique Bauby (Mathieu Amalric) tem 43 anos, é editor da revista Elle e um apaixonado pela vida. Mas, subitamente, tem um derrame cerebral. Vinte dias depois, ele acorda. Ainda está lúcido, mas sofre de uma rara paralisia: o único movimento que lhe resta no corpo é o do olho esquerdo. Bauby se recusa a aceitar seu destino. Aprende a se comunicar piscando letras do alfabeto, e forma palavras, frases e até parágrafos. Cria um mundo próprio, contando com aquilo que não se paralisou: sua imaginação e sua memória.
Crítica: baseado em fatos reais, em 1995, num acidente vascular cerebral (AVC), o jornalista e editor da Revista Elle, Jean-Dominique Bauby (interpretado por Mathieu Amalric), então com 43 anos, foi acometido de uma doença rara – locked-in syndrome – apesar de manter-se lúcido, tem todo o corpo paralisado, sobrando-lhe tão somente o movimento do olho esquerdo.
Tudo começa quando ele desperta do coma. E somos levados a vivenciar seu drama, com o que o olho consegue ver. Aos poucos, ele vai se inteirando do que aconteceu. Um flasback retrata sua vida antes do dia fatídico.
O cineasta teve a notoriedade de contar-nos o filme na posição do protagonista, cujo rosto só surge no meio da história, justamente quando ele decide driblar o seu futuro, e passa a comunicar-se com a ajuda médica pelo piscar dos olhos. Tanto que escreveu um livro de memórias dessa forma.
O filme é emocionante, mas não piegas. E ainda possui bons momentos de humor. A origem do título é explicada em uma das cenas.
Além da atuação de Mathieu Amalric, as atrizes que interpretam a logopedista (que trata de logopedia, parte da foniatria que trata do estudo dos distúrbios da fala) e a que transcreveu toda sua história merecem destaque. Um belo filme, iniciado com a música “La Mer” (O Mar), do compositor francês Charles Trenet (1913-2001).
Avaliação: ****

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sexta-feira, 4 de julho de 2008

Do Outro Lado

Título original: Auf Der Anderen Seite
País: Alemanha/Turquia/Itália
Ano: 2007
Gênero: Drama
Duração: 122 min
Direção: Fatih Akin
Elenco: Nurgül Yesilçay, Baki Davrak, Tuncel Kurtiz, Hanna Schygulla, Patrycia Ziolkowska, Nursel Köse, Yelda Reynaud e Lars Rudolph.

Sinopse: o filme revela-nos como os destinos podem mudar dependendo de pequenos momentos e acontecimentos. São três famílias, duas turcas e uma alemã; seus membros estão espalhados entre os dois países. Yeter é uma prostituta quarentona turca que vive na Alemanha. Ela envia dinheiro para sua filha, Ayten, uma ativista política que vive em Istambul, na Turquia. Nejat é um professor numa universidade Alemã, seu pai, Ali, é um turco aposentado que inicia um romance com a prostituta Yeter. Lotte é uma jovem estudante universitária que vive com sua mãe, Susanne, na Alemanha. Os destinos dessas três famílias se cruzam de uma forma dramática e inesperada.
Crítica: a trama, dividida em três partes, deixa um pouco a desejar no início, ganhando maior força depois, quando os pedaços que se desenvolvem sob o mesmo eixo central vão se juntando. O cineasta tenta passar o que é pertencer a um país em tempos em que as fronteiras vão sumindo aos poucos; não há um muro separando-as. Histórias de pessoas com dupla nacionalidade que tentam se afastar ou se aproximar das suas raízes. Como pando de fundo, ainda mostra o engajamento político de jovens na Turquia. Um belo filme!
Curiosidade: o longa recebeu o prêmio de Melhor Roteiro em Cannes, o César Awards na França e o prêmio máximo do cinema alemão, o German Film Awards.
Avaliação: ***

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