segunda-feira, 1 de julho de 2019

Eu Não Sou Uma Bruxa (I Am Not a Witch)


País: Zâmbia/França
Ano: 2017
Gênero: Drama
Duração: 93 min
Direção: Rungano Nyoni
Elenco: Margaret Mulubwa, Henry B.J. Phiri, Gloria Huwiler e Travers Merrill.

Sinopse: depois de um incidente banal em sua vila, a menina de 8 anos Shula (Maggie Mulubwa) é acusada de bruxaria. Depois de um rápido julgamento, a garota se torna culpada e é levada em custódia pelo Estado, sendo exilada para um campo de bruxas no meio do deserto. No local, ela passa por uma cerimônia de iniciação em que aprende as regras da sua nova vida como bruxa. Como as outras residentes, ela é amarrada em uma grande árvore, sendo ameaçada de ser amaldiçoada e de se transformar em uma cabra caso corte a fita.

Crítica: o primeiro filme da diretora Rungano Nyoni venceu o BAFTA 2018 de "Melhor Estreia Britânica".
A obra então explora a experiência de iniciação bruxa. Basicamente todas as "condenadas" vivem num acampamento e são postas como atração turísticas igual um zoológico. Presas por uma fita branca em suas costas, elas podem se locomover até a extensão total da fita, mas, caso a rasguem ao fugir, serão transformadas em cabras, o que garante a castração social de todas. Para se ver livre do acampamento, elas devem se casar, mas quem vai aceitar o matrimônio com uma bruxa?
Parece ficção, mas não é. A diretora passou um mês em um acampamento real de bruxas em Ghana observando esta realidade bárbara que ainda existe.
A intenção da diretora é claramente a de mostrar ao espectador, através da história de uma menina de 9 anos chamada Shula (Maggie Mulubwa), algo que está realmente acontecendo no mundo: a prisão de mulheres consideradas bruxas por suas comunidades, a rejeição de todos de fora e o mercado que se estabelece nestes campos abertos onde vivem.
São exploradas pelo trabalho e usadas como atração como se vivessem num zoológico.
O caso de Shula é ainda pior. Ela é exposta pelo governador local que a exibe até em programas de TV.
Além de viver presa a uma fita branca como todas as outras mulheres, Shula também trabalha como uma espécie de juíza bruxa em casos de roubo nas comunidades próximas. O olhar dela, confuso e assustado, nos comove.
É incrível como a superstição pode ganhar tanta força a ponto de tornar essas mulheres invisíveis. É desumano como são tratadas. Elas mesmas acreditam que, como bruxas, podem voar e, que se fugirem, se transformarão em cabras.
A obra é uma reflexão e como a injustiça acontece em nome de uma falsa justiça e proteção. O papel das mulheres nessa sociedade está preso a tradições absurdas, onde o futuro de muitas é podado.
As músicas locais, a fotografia, as cores das roupas e a cena final são impactantes e deixam sua marca.

Avaliação: ***

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