segunda-feira, 26 de agosto de 2019

A Noite dos Desesperados (They Shoot Horses, Don’t they?)



País: EUA
Ano: 1969
Gênero: Drama
Duração: 129 min
Direção: Sydney Pollack
Elenco: Jane Fonda, Michael Sarrazin e Susannah York.

Sinopse: em 1929, em plena depressão americana, uma desumana maratona de dança premiava o casal que resistisse por mais tempo na pista, mesmo que isso representasse a morte para o vencedor. Baseado em romance de Horace McCoy com título homônimo.

Crítica: adaptado do livro de Horace McCoy de 1935, o título do filme soa estranho quando apenas pensamos no nome que ganhou no Brasil – A Noite dos Desesperados. Mas em inglês (“They Shot Horses, Don’t They”) é uma metáfora que nos remeterá, ao final da projeção, ao absurdo da condição humana – à conclusão de que a vida daqueles deserdados, participantes por dias a fio da maratona, em sua maioria vencidos pelo cansaço e pela dor, não vale mais que a vida de um animal ferido em acidente.
O livro tornou-se um dos prediletos dos filósofos e escritores existencialistas franceses que viam na obra não só uma alusão ao pior que o capitalismo americano poderia produzir, mas também um mergulho nas motivações humanas para fazer frente a momentos de dor e desespero. Até Charles Chaplin, que havia comprado os direitos do livro, pensava fazer um filme sobre a obra.
Jane Fonda (Gloria) e Michael Sarrazin (Robert) compõem o núcleo central do filme de Sydney Pollack, formando um dos casais que viveram aquele vale-tudo. A bela sequência de abertura é um ato premonitório no filme, que faz referência ao ato de sacrificar o animal ferido para que ele não sofra mais.
Por três refeições por dia, a promessa de um prêmio de 1.500,00 dólares e algumas moedas jogadas pela plateia, dezenas de casais desesperados em plena Grande Depressão dos anos 1930 nos EUA decidem participar de um concurso de danças em um velho salão em Chicago. Na verdade será uma desumana maratona de seis dias até que o último casal sobreviva após passar por dores físicas, desconforto, humilhações e indignidades, monitorados por médicos e enfermeiras cujo papel básico é o de manter os participantes de pé à todo custo para manter a adrenalina do show.
Seu mestre de cerimônias e empresário chamado Rocky (Gig Young, premiado com um Oscar de ator coadjuvante), filho de um charlatão que fazia shows de simulação de curas em parques de diversão, usará as lições aprendidas para manipular emocionalmente os participantes: “isso não é um concurso, é show. As pessoas não estão nem aí para o vencedor. Querem ver um pouco de sofrimento para que se sintam melhor!”, dispara cinicamente Rocky a certa altura do filme.
A narrativa é repleta de pequenos dramas pessoais amplificados pela depressão econômica e desemprego: uma mulher grávida e seu marido que veem no grande prêmio a esperança de dar uma vida digna ao futuro filho; uma fútil atriz que vive a esperança de que na plateia esteja um caçador de talentos de Hollywood; um orgulhoso marinheiro veterano da I Guerra Mundial que tenta provar que ainda é capaz; uma mulher amarga e sobrevivente das ruas vê seu parceiro desistir por motivos de saúde na última hora.
As cenas são extremamente realistas, o que só contribui para a valorização da trama. E o final é arrebatador.
Sem dúvida, uma obra marcante que escancara as crises sociais e as condições humanas.

Avaliação: ****

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