No Portal da Eternidade (At Eternity's Gate)
País: França
Ano: 2018
Gênero: Drama,
Biografia
Duração: 110 min
Direção: Julian
Schnabel
Elenco: Willem Dafoe,
Oscar Isaac, Mads Mikkelsen, Rupert Friend, Emmanuelle Seigner, Vladimir
Consigny, Mathieu Amalric, Niels Arestrup e Amira Casar.
Sinopse: em 1888 Vincent Van Gogh (Willem Dafoe) vivia
em Arles (sul da França). Recluso e melancólico, ele tentava decifrar seus
pensamentos enquanto pintava um dos quadros mais famosos na história da arte
moderna: Quarto em Arles.
Crítica: o enredo do filme dedica-se aos últimos dias de Vincent
Van Gogh (um dos maiores representantes da pintura pós-impressionista). Tão bom
quanto “Com Amor, Van Gogh” (2017), mas aqui com uma narrativa bem sensorial,
quase transcendental, tenta decifrar a mente do pintor que, incompreendido em
vida, foi aclamado e reconhecido muitos anos depois. Como ele mesmo diz em uma
das cenas, talvez “Deus tenha me dado o dom numa época errada, talvez eu seja
um pintor para o futuro”; “Deus me fez pintor para pessoas que ainda não
nasceram.”
O cineasta (diretor de “O Escafandro e a Borboleta”,
de 2007) se aproxima ao máximo de um abstracionismo, buscando transportar a
visão, os sentimentos e as sensações do protagonista para o espectador. Tenta
passar o que ele sentia ao pintar (segundo Van Gogh, ele não poderia viver sem
pintar), o que ele procurava ao criar uma obra. Van Gogh caminhava muitos quilômetros
por dia. Ele adorava os campos, a natureza, o sol.
Quem já leu a biografia de Van Gogh identifica-se
melhor ainda com esses momentos.
Ele sentia-se só. Apenas o irmão Theo o entendia. A afeição
que sentiam um pelo outro é tocante. Theo sempre o incentivou a pintar, é quem
arcava com todas as despesas, inclusive quando Paul Gaugin vai passar um tempo
com Van Gogh em Arles (França).
A aproximação entre os dois, a princípio, parece
animadora. Van Gogh terá uma companhia para conversar, discutir sobre outros
pintores, compartilhar ideias. Mas logo Gaugin se vai e, num ato de desespero,
Van Gogh corta sua orelha.
Razão pela qual ele é internado em um sanatório. Não
seria a primeira vez... Em geral, ele não se lembrava dos atos depois de ocorridos.
As motivações não pareciam ter explicação.
Van Gogh sentia pertencer a outro mundo, a outra
realidade. Suas percepções não pareciam normais. Sua inquietude era julgada
pelas pessoas como insanidade. Seus devaneios, como loucuras.
Essa incompreensão estendia-se à sua arte, o que o
entristecia. Além de só, sentia-se frustrado por não ver seus quadros comprados
(vem vida, teria vendido apenas uma obra: “A Vinha Encarnada”). É doce ouvi-lo quando
diz que quer fazer o retrato de alguém ou quando explica seus quadros, por
exemplo, a um grupo de crianças que pergunta por que ele está pintando somente
as raízes e não a árvore inteira. O que parecia incompleto para as pessoas para
ele não era.
O filme intercala suas obras, revelando sua produção
urgente e impressionante. Muitos e muitos quadros, como se soubesse que o fim
estava perto.
A cena da morte, quando é atingido por um tiro no estômago,
passa uma mensagem de dor, de fragilidade. Ele chama pelo irmão, enquanto é
cuidado pelo médico Paul Gachet (Mathieu Amalric).
Willem Dafoe abraça seu personagem com convicção: nos
olhares perdidos, nos surtos repentinos, no amor ao irmão, na reclusão que lhe é
imposta, pela dificuldade de estar com as pessoas.
A calma era alcançada quando pintava. Ao fazer isso,
ele “parava de pensar”. As cores vivas, as pinceladas fortes e rápidas e a criatividade
pungente o libertavam.
O título não poderia ter sido mais apropriado. Suas
obras são eternas. O legado dele é eterno.
Um caderno com seus desenhos (que foi entregue pela
empregada da pensão onde ficou em Arles para que criasse ali sua arte) foi encontrado
somente em 2016. Uma preciosidade, sem dúvida.
Van Gogh pintou mais de 400 telas, onde retratou
camponeses, a natureza, a miséria e fez autorretratos. Atualmente, suas obras (carregadas
de emoção) estão entre as mais valiosas do mundo.
Avaliação: ****
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