domingo, 24 de fevereiro de 2019

Virunga



País: Reino Unido/Congo
Ano: 2014
Gênero: Documentário
Duração: 100 min
Direção: Orlando von Einsiedel
Elenco: -

Sinopse: na República Democrática do Congo fica o Parque Nacional de Virunga, espaço que abriga o restante dos gorilas da montanha existente no mundo. Uma pequena equipe de guardas florestais protege o parque das milícias, das empresas interessadas em explorar o petróleo da região e de desastres naturais.

Crítica: desde 1968, o Congo sofre uma sucessão de conflitos e raríssimos e curtos períodos de paz. O Exército dá um golpe de Estado, presidente é assassinado, junta militar assume, ditadores assumem o poder, milícias mandam e desmandam, o exército vai embora e deixa a população à mercê da violência. O governo corrupto, simplesmente, se omite.
O documentário retrata o Parque Nacional de Virunga (mais antigo da África, fundado em 1925 por autoridades coloniais belgas) e seus heróis guardas-florestais.
Nos últimos 20 anos, 170 guardas já foram mortos em emboscadas. Os autores? Grupos de rebeldes armados (M23), bandidos locais e milícias “Mai Mai” de autodefesa e caçadores ilegais. Mais recentemente, a pressão contra eles e contra o parque aumentou: a empresa britânica SOCO pretende explorar petróleo na área preservada.
É doloroso assistir a um retrocesso na questão de preservação da fauna (gorilas, elefantes, hipopótamos, antílopes, pássaros) e flora local. É comovente ver o carinho dos tratadores com os 4 últimos gorilas das montanhas (os caçadores matam os machos adultos). Em uma das imagens é mostrada a chacina de 9 gorilas. O diretor do parque é um militar belga. Idealista, acredita que pode resistir ao ataque dos rebeldes.
Uma jornalista francesa documenta tudo e investiga membros da SOCO. Grava conversas comprometedoras. O guarda-florestal Rodrigue também filma e grava conversas com militares e membros do governo já comprados pela empresa exploradora de petróleo. Fecham os olhos para o que será feito em troca de dinheiro, sempre mais dinheiro.
Não há nenhuma preocupação com o crescimento e o desenvolvimento do país, com a educação das crianças, com a renda das pessoas, com oportunidades para os jovens, com a melhoria da qualidade de vida dos vilarejos.
É revoltante, é nauseante, é lamentável, ver como homens poderosos continuam agindo como se estivessem no século passado. O mesmo modo exploratório que destruiu a África se mostra presente novamente.
O parque ainda existe e resiste. Mas até quando? A instabilidade é grande.
Alguns membros da SOCO foram afastados. Mas ela insiste em dizer que não interferirá na área preservada e que os seus interesses são os mais honestos e nobres possíveis.
Uma história de poder e submissão, já vista tantas vezes...
Um filme incrivelmente documentado que resume um pouco o que é viver no Congo, as dificuldades impostas à população por jovens recrutados para milícias que espalham o terror, um governo completamente fadado à corrupção e um exército sem qualquer poder de atuação para impedir as mortes violentas, a destruição de vilarejos e assentamentos de refugiados (de Uganda, outro país arrasado pelas guerras), o estupro de mulheres, o medo crescente de pessoas que perdem tudo, até a dignidade.
O diretor do filme venceu o Oscar de melhor documentário de curta-metragem na edição de 2017 pelo trabalho na obra “The White Helmets” (Os Capacetes Brancos).

Avaliação: ****

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