O Sacrifício do Cervo Sagrado (The Killing of a Sacred Deer)
País: Reino
Unido/Irlanda
Ano:
2017
Gênero: Suspense
Duração: 121
min
Direção: Yórgos
Lánthimos
Elenco: Colin Farrell,
Nicole Kidman, Barry Keoghan, Raffey Cassidy, Sunny Suljic e Alicia
Silverstone.
Sinopse: Steven (Colin Farrell) é um cardiologista
conceituado que é casado com Anna (Nicole Kidman), com quem tem dois filhos:
Kim (Raffey Cassidy) e Bob (Sunny Suljic). Já há algum tempo ele mantém contato
frequente com Martin (Barry Keoghan), um adolescente cujo pai morreu na mesa de
operação, justamente quando era operado por Steven. Ele gosta bastante do
garoto, tanto que lhe dá presentes e decide apresentá-lo à família. Entretanto,
quando o jovem não recebe mais a atenção de antigamente, decide elaborar um plano
de vingança.
Crítica: os filmes do grego Yorgos Lanthimos costumam
causar estranheza no público. O mais famoso deles é “Dente Canino” (2009). Em
seu novo trabalho, “O Sacrifício do Cervo Sagrado”, o desconforto e a
inquietação causados no espectador também estão presentes.
É, sem dúvida, um estilo
autoral, que tem o intuito de denunciar as mazelas humanas, ainda que de forma
grotesca e perturbadora.
A primeira cena, já
funesta, mostra um coração exposto durante uma cirurgia cardíaca e o cirurgião é
Steven Murphy (Farrell). Barbudo e com modos secos, o médico se encontra com o
adolescente Martin (Keoghan), filho de um ex-paciente (que, supostamente, teria
morrido durante a cirurgia) e com quem parece manter algum tipo de amizade. As
coisas começam a mudar, no entanto, quando o caçula de Steven, Bob (Suljic)
subitamente perde o movimento das pernas, sendo submetido a todo tipo de exame
sem que um diagnóstico seja definido. À medida que o garoto piora, a filha mais
velha, Kim (Cassidy), também começa a adoecer, provocando o desespero de sua
mãe, Anna (Kidman).
Chamam a atenção as falas
dos personagens, sempre em tons baixos e sem quaisquer inflexões, como se não
tivessem emoções ou sentimentos ou como se não pudessem expô-los. Algumas falas
também se destacam por serem engraçadas: coisas íntimas sendo reveladas com
total naturalidade a pessoas que não são da família.
Mas mesmo com poucos diálogos,
o sofrimento e a angústia do casal são notáveis. O jovem Barry Keoghan brilha
em cena ao criar uma figura assustadora em sua impassividade, projetando um ar
de ameaça real e concreta sem jamais erguer a voz.
O recurso visual colabora
para a eficácia deste estranho universo, com o uso constante de grandes
angulares que não só deformam os cenários em suas laterais como os expandem em
sua profundidade, deixando os personagens ainda menores e mais frágeis, o que é
ainda reforçado por os deixarem deslocados para um canto inferior do plano. Em
outras sequências, a câmera é mantida em movimento constante com lentos
travellings, sugerindo que algo aterrorizante vai acontecer.
O desfecho do longa pode
não agradar por ser pessimista ou realista, onde será necessário escolher qual membro
da família irá sobrevier. A escolha é inevitável e o ato de fazê-lo é cruel,
sem dúvida. Outra razão do desagrado pode ser pelo fato de não ter uma
explicação científica para a(s) causa(s) da doença que atinge os filhos, o que
restringe o final a horror e ao sobrenatural.
É um filme bem dirigido,
com bom suspense e competentes atuações. Traz questionamentos quanto à ética
médica e, também, às atitudes dos seres humanos quando se trata de sobreviver,
enfim, põe em questão a natureza humana.
Não é preciso concordar com
o diretor, mas para assistir ao filme é preciso ter ciência de que a sua narrativa
costuma chocar.
Avaliação: **
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