domingo, 24 de dezembro de 2017

O Sacrifício do Cervo Sagrado (The Killing of a Sacred Deer)

País: Reino Unido/Irlanda
Ano: 2017
Gênero: Suspense
Duração: 121 min
Direção: Yórgos Lánthimos
Elenco: Colin Farrell, Nicole Kidman, Barry Keoghan, Raffey Cassidy, Sunny Suljic e Alicia Silverstone.

Sinopse: Steven (Colin Farrell) é um cardiologista conceituado que é casado com Anna (Nicole Kidman), com quem tem dois filhos: Kim (Raffey Cassidy) e Bob (Sunny Suljic). Já há algum tempo ele mantém contato frequente com Martin (Barry Keoghan), um adolescente cujo pai morreu na mesa de operação, justamente quando era operado por Steven. Ele gosta bastante do garoto, tanto que lhe dá presentes e decide apresentá-lo à família. Entretanto, quando o jovem não recebe mais a atenção de antigamente, decide elaborar um plano de vingança.

Crítica: os filmes do grego Yorgos Lanthimos costumam causar estranheza no público. O mais famoso deles é “Dente Canino” (2009). Em seu novo trabalho, “O Sacrifício do Cervo Sagrado”, o desconforto e a inquietação causados no espectador também estão presentes.
É, sem dúvida, um estilo autoral, que tem o intuito de denunciar as mazelas humanas, ainda que de forma grotesca e perturbadora.
A primeira cena, já funesta, mostra um coração exposto durante uma cirurgia cardíaca e o cirurgião é Steven Murphy (Farrell). Barbudo e com modos secos, o médico se encontra com o adolescente Martin (Keoghan), filho de um ex-paciente (que, supostamente, teria morrido durante a cirurgia) e com quem parece manter algum tipo de amizade. As coisas começam a mudar, no entanto, quando o caçula de Steven, Bob (Suljic) subitamente perde o movimento das pernas, sendo submetido a todo tipo de exame sem que um diagnóstico seja definido. À medida que o garoto piora, a filha mais velha, Kim (Cassidy), também começa a adoecer, provocando o desespero de sua mãe, Anna (Kidman).
Chamam a atenção as falas dos personagens, sempre em tons baixos e sem quaisquer inflexões, como se não tivessem emoções ou sentimentos ou como se não pudessem expô-los. Algumas falas também se destacam por serem engraçadas: coisas íntimas sendo reveladas com total naturalidade a pessoas que não são da família.
Mas mesmo com poucos diálogos, o sofrimento e a angústia do casal são notáveis. O jovem Barry Keoghan brilha em cena ao criar uma figura assustadora em sua impassividade, projetando um ar de ameaça real e concreta sem jamais erguer a voz.
O recurso visual colabora para a eficácia deste estranho universo, com o uso constante de grandes angulares que não só deformam os cenários em suas laterais como os expandem em sua profundidade, deixando os personagens ainda menores e mais frágeis, o que é ainda reforçado por os deixarem deslocados para um canto inferior do plano. Em outras sequências, a câmera é mantida em movimento constante com lentos travellings, sugerindo que algo aterrorizante vai acontecer.
O desfecho do longa pode não agradar por ser pessimista ou realista, onde será necessário escolher qual membro da família irá sobrevier. A escolha é inevitável e o ato de fazê-lo é cruel, sem dúvida. Outra razão do desagrado pode ser pelo fato de não ter uma explicação científica para a(s) causa(s) da doença que atinge os filhos, o que restringe o final a horror e ao sobrenatural.
É um filme bem dirigido, com bom suspense e competentes atuações. Traz questionamentos quanto à ética médica e, também, às atitudes dos seres humanos quando se trata de sobreviver, enfim, põe em questão a natureza humana.
Não é preciso concordar com o diretor, mas para assistir ao filme é preciso ter ciência de que a sua narrativa costuma chocar.

Avaliação: **

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