Cafarnaum (Capharnaüm)
País: Líbano
Ano: 2018
Gênero: Drama
Duração: 123
min
Direção: Nadine
Labaki
Elenco: Zain
Al Rafeea, Nadine Labaki e Yordanos Shifera.
Sinopse: aos doze anos, Zain (Zain Al Rafeea) carrega
uma série de responsabilidades: é ele quem cuida de seus irmãos no cortiço em
que vive junto com os pais, que estão sempre ausentes. Quando sua irmã de onze anos
é forçada a se casar com um homem mais velho, o menino fica extremamente
revoltado e decide deixar a família. Ele passa a viver nas ruas junto aos
refugiados e outras crianças que, diferentemente dele, não chegaram lá por
conta própria.
Crítica: havia tempo que um filme não impactava tanto
com críticas sociais duras e reais à pobreza, à desigualdade social, à ignorância,
à infância sem educação e sem amor, à natalidade desenfreada, à falta de consciência
de pais que colocam filhos no mundo sem a condição mínima para tal.
O conteúdo de “Cafarnaum” é
riquíssimo, a atuação do ator mirim (Zain Al Rafeea) é tão real que é impossível
não se comover. O mesmo nível de comoção (pelo que me recordo), mostrando a injustiça
do mundo, foi causado em “Tartarugas Também Voam” (do diretor iraniano, Bahman
Ghobadi, 2004).
A edição das cenas, as circunstâncias,
os diálogos, tudo é extraordinário. O longa expõe as cruezas de quem vive à
margem da sociedade, englobando ainda a situação dos imigrantes, sobretudo de
mulheres usadas para a prostituição.
Zain é um menino bom que
trabalha (não pede esmola) para ajudar no sustento da família – que o explora –,
ajuda a cuidar dos irmãos menores e faz tudo para defender sua irmã da
sociedade machista.
No intuito de vingar sua
irmã que morre após um casamento forçado, ele comete um crime. Mas, no
tribunal, as coisas se invertem. Com apenas 11 anos, ele quer processar os pais
“por terem colocado ele no mundo”. A afirmação é feita com tanta eloquência que
nos faz chorar. Ele diz ao juiz que a mãe (grávida de novo) precisa ser
impedida de ter mais filhos.
Amontoados em um cômodo
sujo e minúsculo, nem Zair nem os irmãos estudam. Mal têm o que comer. Acordam
cedo, vão às ruas revender produtos, carregam peso, não tomam banho, não tem
qualquer assistência médica E a irmã a quem ele é mais apegado é “vendida” como
gado para um casamento. Significa menos “uma boca” para comer em casa.
A pobreza já foi retratada
muitas vezes no cinema. O diferencial aqui é questionar a responsabilidade dos
adultos como pais, como provedores de vidas. Uma criança sem infância é um
crime. É deste crime que Zain acusa seus pais.
Um filme excepcional,
daqueles que marcam tanto que você fica pensando nele por dias. E o destaque
maior está na performance do ator mirim que nos cativa com os seus olhos que
expressam dor, desânimo e descrença.
O filme foi selecionado
para competir pela Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2018, onde ganhou o
Prêmio do Júri. Nessa estreia, recebeu uma ovação de 15 minutos.
É um dos 87 títulos que concorrerão aos que serão selecionados para concorrer ao Oscar de Filme Estrangeiro.
Avaliação: *****
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