Indomável Sonhadora (Beasts of the Southern Wild)
País: EUA
Ano: 2012
Gênero: Drama
Duração: 93 min
Direção: Benh Zeitlin
Elenco: Quvenzhané Wallis, Dwight Henry e Levy Easterly.
Sinopse: depois que uma tempestade
atinge a ilha onde vive, menina tenta salvar a vida de seu pai, reencontrar sua
mãe e restaurar a ordem desse lugar.
Crítica: o filme de estreia de Benh Zeitlin (30 anos) recebeu
muitos elogios mundo afora, e não é para menos. Ele consegue fazer, por meio
dos olhos de uma menina de seis anos, com que mergulhemos numa história cheia
de poesia e de crueza também.
A escolha de Quvenzhané Wallis para viver a garota Hushpuppy
pode ter sido o primeiro passo para tal objetivo. Ela é extraordinária, tanto
que foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz. Fala com os olhos, com as feições.
Vive ao lado do pai nos alagadiços ao sul da Louisiana, um lugar mágico do seu
ponto de vista, “cheio de gente de sorte que não têm de viver como os covardes
por trás das barragens”. É esta localidade repleta de peculiaridades, conhecida
como Banheira, que vamos conhecendo pela narração em off da menina.
A visão pueril da garota choca-se de imediato com a
percepção do público adulto. Extrema pobreza, alcoolismo e negligência infantil
são apenas as primeiras apreensões evidentes que temos. O realismo mágico
trazido à tona pelo olhar da menina provoca uma bem-vinda irregularidade na
coerência com a qual enxergamos seu mundo. E este é um dos acertos desta
produção que nos leva a ver além da miséria humana que vitima a menina.
‘Indomável Sonhadora’ é uma explosão de vida, de
energia, de amor que não demora muito a despertar emoções diversas no
espectador. As cenas, carregadas com bons relatos da menina, emocionam muitas
vezes. O local fictício onde mora existe do outro lado de um dique que protege
os moradores de Louisiana não só da invasão das águas, mas resguarda também
seus valores sociais contemporâneos. A Banheira, por outro lado, é vulnerável
às enchentes, porém avessa à ordem estabelecida do lado de lá.
A vida Hushpuppy parece terrível, selvagem em muitos
aspectos. Ela perambula descalça no chão de terra junto a porcos e galinhas.
Não mora no mesmo barraco insalubre do pai, mas num trailer próximo, sozinha.
Seu pai, Wink Duchette, sofre de alguma doença grave não identificada e esta
condição pode de alguma maneira explica porque ela vive separada dele,
juntando-se ao pai somente na hora das refeições que este prepara de forma
precária. Este a trata de forma rude, áspera, mas amorosa também. Sua mãe é ausente,
memória tranquilizadora que a menina evoca em momentos difíceis.
O diretor consegue extrair beleza e poesia dessa
existência sem esperança. O pai que definha vítima de uma doença e a
possibilidade de ficar sozinha naquele mundo desolado e brutal colocam a jovem
Hushpuppy no papel de vítima frágil de uma realidade feroz muito maior que ela,
representada no filme por um bando de javalis pré-históricos chamados Auroches,
que despertam do sono em uma geleira e partem em direção à menina corajosa.
Com uma bela fotografia granulada, o filme oferece uma
percepção fantástica de vida de uma criança em meio à rusticidade da natureza.
A Banheira é um lugar singular, inóspito, repleto de personagens cuja infinita
tristeza só se compara à sua vontade de resistir, a todo custo, como fizeram
nossos ancestrais. Uma história pungente sobre a realidade cruel de ter de
crescer muito antes de seu tempo.
Avaliação:
****
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