segunda-feira, 8 de abril de 2019

3 Faces (Se Rokh)


País: Irã
Ano: 2018
Gênero: Drama
Duração: 100 min
Direção: Jafar Panahi
Elenco: Behnaz Jafari, Jafar Panahi e Marziyeh Rezaei.

Sinopse: uma famosa atriz iraniana recebe um vídeo perturbador de uma garota implorando por ajuda para escapar de sua família conservadora. Ela então pede seu amigo, o diretor Jafar Panahi, para descobrir se o vídeo é real ou uma manipulação. Juntos, eles seguem o caminho para a aldeia da menina nas remotas montanhas do norte, onde as tradições ancestrais continuam a ditar a vida local. Filme exibido no 71º Festival Internacional de Cannes, em maio de 2018.

Crítica: novamente mesclando ficção e realidade (como visto em seu último trabalho “Táxi em Teerã), mas agora de forma ainda mais competente e surpreendente, Panahi  inicia o filme com um vídeo caseiro que mostra uma garota desesperada, pedindo ajuda a uma atriz famosa, porque também sonha em ser atriz, mas sofre com a perseguição da família. O desespero da menina é intenso, a conclusão do vídeo sugere a possibilidade de suicídio.
A atriz Behnaz Jafari e o amigo Jafar Panahi, ambos interpretando a si mesmos, decidem ir até o vilarejo onde a menina mora para saber se, de fato, o vídeo é verdadeiro ou se é uma brincadeira de mau gosto.
Jafari e Panahi assistem às imagens uma, duas, três vezes. Eles levantam dúvidas sobre os objetos da cena, o tom de uma suposta atuação, o envio do material e se realmente houve uma tragédia. Vale ressaltar a total naturalidade deles em cena.
Os acontecimentos da viagem e durante o encontro com os moradores do vilarejo (e suas rígidas regras), e os diálogos, são bastante precisos em misturar drama e comédia e em escancarar uma crítica social num suspense que permanece quase até o fim da trama.
E quando é revelado, os preconceitos, as exclusões e o machismo são trazidos à tona, geralmente produzidos pela opressão religiosa, pela diferença de classes sociais e pelo isolamento do vilarejo. A violência está ali nas palavras ou até fisicamente, como por exemplo, o irmão da moça que precisa ser contido. Afinal, ele não aceita que ela estude e trabalhe como atriz. Nota-se a diversidade do Irã por meio de seus personagens.
Panahi também consegue inserir na narrativa (com excepcional naturalidade) as restrições impostas a ele mesmo e a outros atores. Ele que não pode deixar o Irã ou fazer filmes (a não ser burlando a lei como faz aqui) e alguns que não podem retornar ao país.  
Além do incrível roteiro, Panahi demonstra invejável controle estético e uma criatividade peculiar para os posicionamentos da câmera, que parece estar em vários locais e enquadramentos simultaneamente capturando todos os movimentos.
Um filme interessante, que tem muito a dizer sobre o papel da mulher na sociedade médio-oriental.
Na trama temos a atriz já famosa e conhecida por todos, a menina que quer ir para a capital e seguir os passos da carreira artística e outra que mora no vilarejo e está completamente esquecida e “condenada” à solidão.

Avaliação: ****

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