Border (Gräns)
País: Suécia/Dinamarca
Ano: 2018
Gênero: Fantasia
Duração: 110
min
Direção: Ali
Abbasi
Elenco: Eva
Melander, Eero Milonoff e Jörgen Thorsson.
Sinopse: Tina (Eva Melander) é uma policial que
trabalha no aeroporto fiscalizando bagagens e passageiros. Depois de ser
atingida por um raio na infância, ela desenvolveu uma espécie de sexto sentido,
fazendo com que seja capaz de “ler as pessoas” apenas pelo olhar. Isso sempre
representou uma vantagem na sua profissão, mas tudo muda quando ela identifica
um criminoso em potencial e não consegue achar provas para justificar sua
intuição. Após o episódio, ela passa a questionar seu dom, ao mesmo tempo em
que fica obcecada em descobrir qual o verdadeiro segredo de Vore (Eero
Milonoff), seu único suspeito não legitimado.
Crítica: Border (Gräns, em sueco, que significa “limite”)
é, antes de mais nada, uma grata surpresa.
Baseando-se em uma fábula nórdica,
o diretor sueco-iraniano nos conta a história de Tina (Eva Melander). Ela trabalha
na alfândega de um porto de entrada de passageiros vindos de países próximos à
Suécia. Sua função é identificar pessoas que podem estar portando algo ilegal
na travessia. Só que diferente de um agente normal, ela não precisa de
detectores de metal ou equipamentos de raios-x. Seu “superpoder” é literalmente
seu faro. Essa habilidade incomum de farejar culpa, raiva e medo nos
passageiros é apenas um dos elementos que causam estranheza no espectador.
No decorrer da narrativa, algumas cenas podem causar aversão,
mas são extremamente adequadas e necessárias para passar uma mensagem universal e
contemporânea. Parte da repulsa vem da “feiura”
de Tina, o que certamente a tornou mais introspectiva.
Dois acontecimentos no seu
local de trabalho dão ritmo à narrativa. Primeiro, um homem é flagrado por Tina
com arquivos digitais contendo pornografia infantil e vai direto para a
delegacia. A agente é então convidada a auxiliar uma investigação para
desbaratar uma possível organização por trás dos arquivos. O segundo evento é o
mais desestabilizante para a protagonista (e é impressionante a atuação de Eva
Melander). O estranho Vore (Eero Milonoff, “O Dia Mais Feliz da Vida de Olli
Mäki”, de 2016), uma pessoa com características físicas muito semelhantes à
Tina, atravessa seu caminho na fronteira. A princípio ela fareja algo errado
nele, mas não consegue identificar o quê. Quando voltam a se encontrar, a
curiosidade de Tina faz com que ela puxe conversa e se aproxime de Vore.
No início, nada é muito
exposto sobre a bizarra natureza coincidente entre Tina e Vore. Aos poucos,
como páginas de um livro, o longa revela traços dos dois personagens que
atingem o público de forma impactante e inesquecível. Entre repulsa,
curiosidade e uma certa violência, o hábil roteiro consegue criar uma sensibilidade
envolvente. Tina é aceita por Vore como ela é, e a liberta de sentimentos de
inadequação. O que é belo, afinal? O que é moral, o que é vergonhoso?
A trama expõe vários paralelos
entre os comportamentos humanos e “normais”, levantando questões sobre quais são
os valores corretos e o que significa ser humano ou não.
A obra é, sem dúvida, excepcional,
por ainda saber incluir um certo grau de fantasia e de ficção científica sem devaneios
e sem se afastar da realidade que vivemos. Pelo contrário, esse recurso
utilizado funciona plenamente no mundo real e é um dos fatores que acrescenta
valor à produção e exerce uma função de “moral da história”.
Imperdível!!!
Avaliação: ****
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