domingo, 7 de junho de 2015

Os Últimos Cangaceiros

País: Brasil
Ano: 2011
Gênero: Documentário
Duração: 79 min
Direção: Wolney Oliveira
Elenco: Durvinha e Moreno.

Sinopse: Jovina Maria da Conceição e José Antonio Souto são dois senhores que levam uma vida bem comum pelos últimos 50 anos. O que ninguém sabe, incluindo seus filhos, é que estes nomes são falsos. A dupla, na verdade, é conhecida como Durvinha e Moreno. Eles integraram o bando de Lampião, o mais controverso e famoso líder do cangaço. A verdade só vem à tona quando Moreno, aos 95 anos, resolveu compartilhar suas lembranças com os filhos, além de sair a procura de seus parentes vivos, incluindo seu primeiro filho.

Crítica: um excelente documentário que já deveria ter sido feito há muito tempo. Para nossa sorte, ainda restaram cangaceiros para contar parte da grande história do cangaço que terminou em 1938, com a morte de Lampião na Grota de Angicos, em Sergipe.
A prisão e a tortura foram o estopim para que Antônio Ignácio da Silva deixasse Brejo Santo, no sertão do Ceará. Aderiu então às tropas de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, em 1930. No bando, seu nome virou Moreno.
Responsável por 21 mortes (pelo que ele se lembra), escapou do cerco ao grupo (feito pelos volantes, grupos de policiais disfarçados de cangaceiros, que muitas vezes eram mais brutais que os próprios cangaceiros) e fez vida nova com Durvalina Gomes de Sá, a Durvinha, integrante do bando. A moça era apaixonada por Virgílio, mas este foi morto, abrindo espaço para Moreno.
Baseado nas declarações dos dois, o documentário usa filmes clássicos sobre o cangaço – está lá a preciosidade do libanês Benjamin Abrahão (1890-1938), o único a filmar, em 1936, o bando de Lampião; fotos de arquivo; entrevistas com parentes e conhecidos do casal, historiadores, ex-policiais e ex-coiteiros (que auxiliavam o bando comprando o que precisassem na cidade); e o mais valioso, que são os depoimentos e memórias do simpático casal de cangaceiros que contam muita coisa: os ataques a fazendas e vilarejos, o medo que as pessoas tinham do grupo, o recrutamento forçado de jovens mulheres, os bailes movidos a forró, as dificuldades.
Moreno (1910-2010) e Durvinha (1915-2008) não arriscam análises sobre o que fizeram. Contam a crueza das vidas, a fome, a fuga (em 1940 deixam o sertão e andam a pé por 90 dias cerca de 1.400 km até chegar ao estado de Minas Gerais), o abandono de filhos. Embora simpático aos velhinhos, o filme não deixa de tratar do lado perverso da turma. Falam de crueldade, assaltos, matanças. Enfim, heroísmo e bandidagem andam lado a lado.
Um dos filhos, deixado com um padre chamado Frederico, lá no sertão do Ceará, é encontrado pela irmã.
No final, a família reunida comemora os 99 anos de Moreno, no ano de 2008. Nesse mesmo ano, Dona Durvinha nos deixou e Moreno, no ano de 2010.
O cangaço teria nascido como uma forma de defesa dos sertanejos diante da ineficiência do governo em manter a ordem e aplicar a lei. Mas o fato é que os bandos de cangaceiros logo se transformaram em quadrilhas que aterrorizaram o sertão, pilhando, assassinando e estuprando. Estima-se que o grupo, liderado por Lampião, chegou a matar mais de mil pessoas. No entanto, sem se aprofundar em questões políticas e sociais, o longa apenas documenta. Os nomes de todos os participantes são revelados e suas características também.
As histórias desses cangaceiros trazem colorido a um tempo em que a pobreza e a violência produziam revoltas sociais.

Avaliação: ***

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