domingo, 2 de setembro de 2012

A Rebelião (L'ordre et la morale)


País: França
Ano: 2012
Gênero: Ação
Duração: 136 min
Direção: Mathieu Kassovitz
Elenco: Mathieu Kassovitz, Iabe Lapacas, Malik Zidi, Alexandre Steiger, Daniel Martin, Philippe Torreton, Sylvie Testud, Steeve Une e Philippe de Jacquelin Dulphé.

Sinopse: abril de 1988, na ilha de Nova Caledônia, 30 policiais são feitos reféns por um grupo que luta pela independência do país. Trezentos soldados franceses são enviados para restaurar a ordem. O conflito coloca frente a frente o capitão Philippe Legorjus, da força especial francesa, e Dianou Alphonse, líder dos rebeldes. Por meio de valores comuns, eles vão tentar resolver o conflito pelo diálogo, mas, no meio de uma eleição presidencial, os interesses políticos ditam as regras.
Crítica: a Nova Caledônia é um arquipélago da Oceania, na Melanésia, no Oceano Pacífico, situada a 1.500 km da Austrália e a 2.000 km da Nova Zelândia. É de domínio da França, apesar de se situar a 16.000 km daquele país. Um conflito ocorrido na Nova Caledônia em 1988, entre a polícia francesa (a Gendarmerie), o povo kanak que habita a ilha e a tropa do exército francês para lá enviada, é o assunto do longa, narrado em primeira pessoa, por Phillipe Legorjus (Mathieu Kassovitz), que chefia um grupo de elite da Gendarmerie. Aliás, a trama é baseada no livro de Philippe Legorjus, “La Morale et L’Action”.
Na busca pela independência do país, até hoje não conquistada, uma ação dos líderes kanak levou ao sequestro de alguns policiais e disso resultaram algumas mortes. A proximidade da eleição francesa, que colocava François Miterrand contra Jacques Chirac, precipitou decisões. O assunto ocupou os jornais da época e até o debate televisivo entre os candidatos, que é mostrado no filme.
Para intervir no conflito, foi enviado um grupo da elite da Gendarmerie, chefiado por Phillipe. Os policiais vão tentar uma negociação, respeitando a cultura local e os direitos humanos, mas os interesses político-eleitorais acabam falando mais alto, fazendo os fatos assumiram dimensões que não tinham.
O povo kanak, negociador por excelência, com o costume de fazer acordos “olhos nos olhos”, chegou a ser descrito como assassino, cruel, capaz de decapitações e estupros, além do sequestro de fato perpetrado. Segundo Kassovitz, Chirac, que era o Primeiro-Ministro da época, teria afirmado que o povo kanak não merecia ser tratado como ser humano.
Neste clima de ânimos exacerbados, o capitão Phillipe se vê em meio a um grande dilema: como evitar o uso da violência por parte dos militares e o massacre do povo e dos próprios policiais que estavam sequestrados? Será que os compromissos que vão sendo assumidos na negociação com o chefe dos kanak rebeldes, Alphonse (Iabe Lapacas), serão respeitados ou a hierarquia enviará uma ordem contrária? O título original “L’Ordre et la Morale” (a ordem e a moral) se refere a isso.
 “A Rebelião” é um filme oportuno, ao buscar resgatar os fatos que envolveram aquele episódio, tenso e muito distorcido pelo noticiário da época, colocando as razões que moveram tanto os policiais quanto os militares e o povo local nas diferentes vertentes do conflito. A figura do capitão Phillipe, seus dilemas morais e o contexto que o embaraçava revelam a complexidade da situação, quando aquilo que parecia mais simples de ser feito se torna impossível, graças ao pragmatismo eleitoreiro.
A questão da independência da Nova Caledônia, por sinal, continua em aberto. Em 2014, será realizado um plebiscito para que a população decida pela independência ou não, em relação à França.
O longa reconstrói (e de forma exemplar) toda a sequência de fatos que envolveu o episódio. Participam do elenco habitantes locais, contracenando com atores franceses profissionais, o que exigiu do diretor Kassovitz longas e intensas negociações com os kanak, uma vez que o próprio assunto era um verdadeiro tabu para os moradores da ilha. Antigos militares que estiveram envolvidos no episódio também atuam.
A pequena falha do filme está em não explicar nada do conflito para o público que não é francês. Há referências e siglas de nomenclaturas desconhecidas (como por exemplo, a de um grupo considerado terrorista pelo governo francês, e que participa da história). O próprio contexto da eleição francesa de 1988 não é algo a que os brasileiros tenham familiaridade. Mas é perfeitamente possível compreender o que está em jogo, prestando atenção aos detalhes e ao contexto em si. E a exposição cruel e real dos fatos possibilita interessantes reflexões sobre o ser humano e sobre os valores morais.

Avaliação: ****

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