terça-feira, 3 de julho de 2018

Safári



País: Áustria
Ano: 2016
Gênero: Documentário
Duração: 91 min
Direção: Ulrich Seidi
Elenco: -

Sinopse: em meio a grande selva da África, turistas caçadores alemães e austríacos estão de férias no local. Em meio aos antílopes, zebras e gnus que pastam pela selva, eles ficam na espreita, esperando suas presas. Eles atiram, pulam de emoção e posam para uma foto com o animal abatido. Um documentário sobre a natureza humana e a morte.

Críticao diretor austríaco Ulrich Seidl tem uma forma bem peculiar de fazer filmes: um estilo cru, geralmente sem trilhas sonoras e consegue captar dos seus personagens o que há de mais obscuro. Causador de polêmicas como na trilogia Paraíso: Amor, Fé e Esperança, também deixou sua marca em “Bom Jesus”, “I Know” e, agora, nos apresenta o provocativo documentário Safári.

Usando como fio condutor um grupo de pessoas em uma reserva de caça no coração da África, em que têm o direito (se pagarem, é claro) de caçar uma gama variada de animais selvagens, entre cervos, gnus, girafas e elefantes, ele levanta questionamentos sobre a convivência entre os homens e os animais selvagens.
A caça praticamente indiscriminada onde essas pessoas - todos ricos austríacos -desembolsam uma fortuna para tirar a vida de animais e se divertir nos parece, por demais, medieval.
As melhores partes estão nas falas “absurdas” dos caçadores que tentam justificar suas barbáries dizendo que o animal já estava velho; que ninguém pode escapar da morte; que ao capturarem (como alguns preferem afirmar, em vez de usar a palavra matar) os animais, na verdade, estariam libertando-os.
Essas afirmações bizarras expõem um ser humano totalmente sem noção. As cenas em que os atiradores usam seus potentes rifles nos chocam. Choque maior ainda é vê-los comemorando, se congratulando pelo tiro e, acreditem, se emocionado pelo ato cometido. Para finalizar, tiram fotos que, posteriormente, serão postadas como “troféus”.  O dono da reserva para caça é um austríaco. Na sua sala, ele mostra com orgulhos vários animais empalhados.
Os depoimentos vão, além da questão da caça. Refletem o preconceito enraizado num povo que se acha superior. A balela de que com o dinheiro dos turistas que visitam o parque há distribuição de renda para os nativos que ali vivem é risível.
O que vimos na tela é pobreza. Eles vivem em casebres com paredes feitas de telhado de zinco, sem luz e comendo restos dos animais caçados e mortos. O trabalho sujo, feio e pesado (de tirar a pele, remover os órgãos internos e desmembrar o animal) é feito por eles, sem qualquer remuneração digna ou, sequer, proteção para trabalharem. Não usam luvas, máscaras, nada.  
É estranho e incômodo assistirmos a tudo isso. A morte da girafa fêmea é a mais dolorosa de se ver. Seu companheiro macho fica, por minutos, esperando que ela se levante e continue seguindo com ele.
Como permitimos que isso aconteça ainda é impossível de responder. É um documentário duro, real e cruel.
Com mais recursos, o filme poderia ainda chocar mais. Mas Ulrich Seidl acredita que o que revela já é o suficiente para exibir o quão deploráveis podemos ser.

Avaliação: ***

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