A Feiticeira da Guerra (War Witch/ Rebelle)
País: Canadá
Ano:
2012
Gênero: Drama
Duração: 90
min
Direção: Kim
Nguyen
Elenco: Rachel
Mwanza e Serge Kanyinda.
Sinopse: depois
de ter sua vila queimada por rebeldes e seus pais assassinados numa guerra
civil na África, a menina Komona é levada para a floresta para lutar como uma
criança-soldado. Seu brutal comandante não só a treina para o uso de armas, mas
também a força a ter relações com ele. Procurando por abrigo no meio do horror,
ela se apega a um garoto albino, um pouco mais velho, que ela chama de
“Mágico”. Depois de escaparem juntos, Komona deve retornar à sua vila natal
para enterrar os pais. Apesar de todos os horrores que encontra pelo caminho,
Komona ainda tem esperança.
Crítica: o diretor optou pela mescla de documentário e
ficção, o que não deixa de revelar a crueza e a realidade de crianças
africanas, marcadas para serem retiradas de seus lares e terem uma curta vida dedicada
à violência.
Logo no início, vemos a
protagonista Komona (Rachel Mwanza – perfeita em sua primeira atuação como
atriz) perder sua humanidade. A menina do Congo, de apenas 13 anos de idade,
acabara de ser recrutada involuntariamente pelo grupo guerrilheiro do líder
Grand Tigre Royal, e sua porta de entrada para esta nova vida deve ser selada
com sangue.
O tema mórbido nos remete
aos horrores de países como Serra Leoa ou Ruanda, e comove muito, pois oferece
uma fração mínima do sentimento destas crianças soldados, que nada mais têm a
fazer do que entregar suas vidas a causas distorcidas e desumanizadas.
Durante quase todo o
decorrer do filme, Komona surge calada, com uma dura expressão no olhar, mas
ainda com um fio de esperança para sobreviver àquela triste vida.
Certo dia, após tomar a
"seiva da mata" (uma espécie de alucinógeno extraído das árvores e
dado às crianças soldados), Komona começa a enxergar espíritos assustadores:
negros pintados de branco e com olhos sem vida. Contudo, em seu primeiro
contato com estas almas penadas, ela recebe auxílio das mesmas, o que lhe faz
escapar ilesa de uma emboscada do governo contra sua trupe de guerrilheiros.
É aí que o restante do
grupo cria certa idolatria pela garota, batizando-a de "Feiticeira da
Guerra", cujos poderes podem influenciar o resultado de confrontos
futuros. Ela se torna então "um pouco relevante".
Este contexto
sobrenatural/espiritual é peça chave da obra. Os captores da jovem realizam processos
ritualísticos a todo momento, sendo que até mesmo a entrega das armas nas mãos
das crianças se torna uma cerimônia sagrada. É o deus Kalashnikov acima de tudo
e de todos: "Cuide de sua arma como se ela fosse seu papai e sua
mamãe!".
O grupo de atores (que são
basicamente "não atores") não entregam interpretações, mas sim
relatos verídicos. Vemos crianças e adultos da região que compreendem
profundamente o que está sendo argumentado na trama, fazendo com que suas
incorporações se tornem a exteriorização de uma concepção já encrustada em suas
personalidades.
O roteiro é teoricamente
simples, e monta linearmente os acontecimentos que definem sua protagonista.
Porém, o peso dramático de tais descrições é inquestionável. No entanto, há também
momentos de humor e felicidade com o fugaz relacionamento de Komona e o negro
albino chamado apenas de "Mágico" (Serge Kanyinda). Basicamente, um
sonho de dois escravos fadados à violência.
Um filme difícil de
esquecer, tanto pela história real e comovente como pela atuação dos protagonistas
e pela mensagem urgente que passa: que tal injustiça não pode mais continuar,
deve haver alguma interferência para livrar milhares de crianças inocentes do
horror e da manipulação de monstros que se dizem humanos.
Curiosidade: Rachel Mwanza ganhou por sua interpretação o
prêmio de melhor atriz no "Berlin International Film Festival" e no
"Tribeca Film Festival".
Avaliação:
****
0 comentários:
Postar um comentário