Tabu
País: Portugal/Brasil/Alemanha/França
Ano:
2012
Gênero: Ficção
Duração: 110
min
Direção: Miguel
Gomes
Elenco: Teresa Madruga, Laura Soveral, Ana Moreira,
Henrique Espírito Santo, Carloto Cotta, Isabel Cardoso, Ivo Müller e Manuel
Mesquita.
Sinopse: uma idosa temperamental, a empregada
cabo-verdiana e uma vizinha dedicada a causas sociais partilham o mesmo andar
em um prédio em Lisboa. Quando a primeira morre, as outras duas passam a
conhecer um episódio do seu passado: uma história de amor e crime passada numa
África de filme de aventura.
Crítica: Tabu é uma obra difícil de descrever, mas é um
daqueles filmes que você vai lembrar muito tempo depois, não só pela história
em si, mas pela forma como é apresentado.
O título já é algo que
instiga a curiosidade. A trama começa mostrando alguém que você pensa que será
o centro da história, mas não é. Em seguida, percebe-se que o foco é outro completamente
diferente. Além disso, o longa foi filmado de maneira pouco usual para os
padrões atuais: em janela 4:3, com um granular diferenciado e totalmente em
preto em branco, além de partes em 16mm. Todos estes recursos são usados com
perfeição e são justificados a cada movimento de câmera.
O roteiro é uma releitura
do clássico homônimo de 1931, assinado por F.W. Murnau e Robert Flaherty, no
entanto existe uma inversão clara de valores. Ambos se dividem em dois
capítulos: Paraíso e Paraíso Perdido, o original segue esta ordem, enquanto a
produção de Miguel Gomes caminha na direção contrária.
A primeira parte de Tabu é
situada na Lisboa contemporânea e apresenta a personagem Pilar, uma mulher de
meia idade engajada em diversas causas sociais. De início, acredita-se que ela
será o centro da trama, mas logo percebemos que o foco é sua vizinha, uma idosa
viciada em jogos, com ideias mirabolantes, beirando a loucura.
Esta é Aurora. De rotina
solitária, divide o apartamento com sua empregada cabo-verdiana Santa, uma
mulher “linha dura” que segue à risca as orientações da filha de sua patroa.
Aliás, o humor não proposital de Santa é o ponto alto do primeiro capítulo. Com
respostas secas, ela consegue estabelecer grandes transições entre comédia e
drama.
Graças a um delírio da
idosa conhecemos o seu antigo amante: Ventura. Ele é o responsável por iniciar
um grande flashback ao paraíso dos dois, a África Colonial. Nesse segundo
momento, o filme deixa a comédia de lado e assume uma postura mais dramática. A
narrativa agora é outra, a voz de Ventura convida a todos para descobrir os
pecados do casal e os motivos que culminaram em sua expulsão deste local. E muitas surpresas virão.
A edição de som é primorosa,
com um rigor técnico que impressiona. Na maior parte do longa, o áudio dos
personagens é retirado, restando apenas o som ambiente e os movimentos dos
lábios, tornando-se um verdadeiro e eficiente filme mudo. O entendimento da
história não é prejudicado e, pelo contrário, torna-se até mais claro e
vigoroso. A trilha sonora mescla ritmos africanos e uma balada dos Ramones que
são muito bem executados nas cenas.
Miguel Gomes tem um
trabalho realmente incomum e ainda prova que é possível conciliar perfeição
técnica e poesia no cinema. ‘Tabu’ foi apresentado em diversos festivais internacionais
de cinema. Outro sucesso do cineasta é: ‘Aquele Querido Mês de Agosto’, eleito
o Melhor Longa-Metragem pela crítica na Mostra Internacional de Cinema de São
Paulo de 2008.
Apesar do ritmo lento, o
enredo consegue capturar o espectador desacostumado com suas obras e envolver
todos os cinéfilos de plantão.
Avaliação:
****
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