Clube de Compra Dallas (Dallas Buyers Club)
País: EUA
Ano:
2013
Gênero: Drama
Duração: 117
min
Direção: Jean-Marc
Vallée
Elenco: Matthew McConaughey, Jared Leto, Jennifer
Garner, Steve Zahn, Denis O`Hare e Griffin Dunne.
Sinopse: em 1986, o eletricista texano Ron Woodroof
(Matthew McConaughey) é diagnosticado com AIDS e logo começa uma batalha contra
a indústria farmacêutica. Procurando tratamentos alternativos, ele passa a
contrabandear drogas ilegais do México.
Crítica: sem dúvida, o melhor filme dos concorrentes ao
Oscar deste ano. A nota máxima vai não somente pela história em si, mas pela
direção certeira de Jean-Marc Vallée (que dirigiu o excelente Crazy – Loucos de
Amor, em 2005) que soube equilibrar um drama sem ser melodramático, e pela atuação
surpreendente de McConaughey, o melhor de toda a sua carreira.
Baseado na vida de Ronald
Woodroof (McConaughey), o longa tem início em 1985, quando o protagonista é
diagnosticado como portador do vírus HIV e, já com a saúde debilitada, recebe
um prognóstico sombrio: mais 30 dias de vida, no máximo.
Impossível não se lembrar
de Tom Hanks em ‘Filadélfia’ ou de Sean Penn em ‘Milk’. Mas, aqui, Woodroof é incrivelmente
racista, misógino, homofóbico e politicamente reacionário. A surpresa é quando,
mesmo com uma aparência extremamente frágil, decide arregaçar as mangas.
Inicialmente incrédulo por achar
que a AIDS era um mal exclusivo de homossexuais ou usuários de drogas
injetáveis, Woodroof gradualmente aceita sua condição e passa a pesquisar e buscar
formas de conseguir os novos medicamentos testados contra a síndrome, entre eles
o AZT. Contudo, ao perceber os graves efeitos tóxicos do remédio, ele logo
descobre alternativas experimentadas por um ex-médico (Griffin Dunne, irreconhecível)
que, com o diploma cassado, reside no México e, a partir daí, não só passa a se
medicar como ainda decide contrabandear as pílulas para os Estados Unidos a fim
de vendê-las para pacientes norte-americanos.
Apesar do temperamento
explosivo e das atitudes preconceituosas, ele se alia ao travesti Rayon (Leto)
para levar adiante sua luta. E, claro, nada de transformações em ‘homem
certinho’, o que enfraqueceria o filme, mas nasce entre eles o respeito à
individualidade de cada um. A sua batalha é tão comovente que até uma médica Eve
(Jennifer Garner) se rende aos seus apelos, também sem nenhum romance em vista.
O diretor é muito sábio na condução
da história que corre dinâmica, ao empregar transições elegantes indicando o
avanço dos meses (por exemplo, nas sequências em que busca remédios
alternativos em outros países), e com atuações louváveis de todo o elenco. O diálogo
sarcástico ao desfiar críticas contra a indústria farmacêutica, intercalado com
momentos cômicos, dão uma forma agradável à trama que prende a atenção do espectador
desde o primeiro minuto do filme.
Algumas cenas são duras
como o rompimento de Woodroof com seus ‘supostos’ amigos ignorantes. O
amadurecimento dele como ser humano acontece aos poucos e comove. A dificuldade
para conseguir medicamentos nos primeiros anos da epidemia é algo terrível e do
qual ninguém queria falar à época. O único refúgio para discutir o assunto eram
os grupos de apoio.
Além de todas as qualidades
já citadas, a película tem ainda um ótimo trabalho de design de produção que
recria a época. São eficientes também as cenas em que um zumbido incômodo e
recorrente evoca as crises de saúde provocadas pela AIDS.
Enfim, o longa é muito mais
que uma cinebiografia. Ele apresenta um retrato angustiante de um momento em
que a propagação da AIDS, associada ao preconceito que a doença e a
homossexualidade despertavam, era contraposta à lentidão com que agiam os
órgãos responsáveis pelos testes de novas medicações e sua liberação para
consumo. Quem se beneficiava com isso era só a indústria farmacêutica ao criar
uma demanda reprimida que, usando o desespero de pacientes à beira da
aniquilação, não hesitava em lançar remédios subtestados e sobrevalorizados que
intoxicavam os doentes ao mesmo tempo em que arruinavam suas contas bancárias.
Um filme imperdível e merecedor
de Oscar, ainda mais quando a safra anda bastante fraca e sem grandes histórias
para contar.
Avaliação: *****
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