domingo, 23 de fevereiro de 2014

Clube de Compra Dallas (Dallas Buyers Club)

País: EUA
Ano: 2013
Gênero: Drama
Duração: 117 min
Direção: Jean-Marc Vallée
Elenco: Matthew McConaughey, Jared Leto, Jennifer Garner, Steve Zahn, Denis O`Hare e Griffin Dunne.

Sinopse: em 1986, o eletricista texano Ron Woodroof (Matthew McConaughey) é diagnosticado com AIDS e logo começa uma batalha contra a indústria farmacêutica. Procurando tratamentos alternativos, ele passa a contrabandear drogas ilegais do México.

Crítica: sem dúvida, o melhor filme dos concorrentes ao Oscar deste ano. A nota máxima vai não somente pela história em si, mas pela direção certeira de Jean-Marc Vallée (que dirigiu o excelente Crazy – Loucos de Amor, em 2005) que soube equilibrar um drama sem ser melodramático, e pela atuação surpreendente de McConaughey, o melhor de toda a sua carreira.
Baseado na vida de Ronald Woodroof (McConaughey), o longa tem início em 1985, quando o protagonista é diagnosticado como portador do vírus HIV e, já com a saúde debilitada, recebe um prognóstico sombrio: mais 30 dias de vida, no máximo.
Impossível não se lembrar de Tom Hanks em ‘Filadélfia’ ou de Sean Penn em ‘Milk’. Mas, aqui, Woodroof é incrivelmente racista, misógino, homofóbico e politicamente reacionário. A surpresa é quando, mesmo com uma aparência extremamente frágil, decide arregaçar as mangas.
Inicialmente incrédulo por achar que a AIDS era um mal exclusivo de homossexuais ou usuários de drogas injetáveis, Woodroof gradualmente aceita sua condição e passa a pesquisar e buscar formas de conseguir os novos medicamentos testados contra a síndrome, entre eles o AZT. Contudo, ao perceber os graves efeitos tóxicos do remédio, ele logo descobre alternativas experimentadas por um ex-médico (Griffin Dunne, irreconhecível) que, com o diploma cassado, reside no México e, a partir daí, não só passa a se medicar como ainda decide contrabandear as pílulas para os Estados Unidos a fim de vendê-las para pacientes norte-americanos.
Apesar do temperamento explosivo e das atitudes preconceituosas, ele se alia ao travesti Rayon (Leto) para levar adiante sua luta. E, claro, nada de transformações em ‘homem certinho’, o que enfraqueceria o filme, mas nasce entre eles o respeito à individualidade de cada um. A sua batalha é tão comovente que até uma médica Eve (Jennifer Garner) se rende aos seus apelos, também sem nenhum romance em vista.
O diretor é muito sábio na condução da história que corre dinâmica, ao empregar transições elegantes indicando o avanço dos meses (por exemplo, nas sequências em que busca remédios alternativos em outros países), e com atuações louváveis de todo o elenco. O diálogo sarcástico ao desfiar críticas contra a indústria farmacêutica, intercalado com momentos cômicos, dão uma forma agradável à trama que prende a atenção do espectador desde o primeiro minuto do filme.
Algumas cenas são duras como o rompimento de Woodroof com seus ‘supostos’ amigos ignorantes. O amadurecimento dele como ser humano acontece aos poucos e comove. A dificuldade para conseguir medicamentos nos primeiros anos da epidemia é algo terrível e do qual ninguém queria falar à época. O único refúgio para discutir o assunto eram os grupos de apoio.
Além de todas as qualidades já citadas, a película tem ainda um ótimo trabalho de design de produção que recria a época. São eficientes também as cenas em que um zumbido incômodo e recorrente evoca as crises de saúde provocadas pela AIDS.
Enfim, o longa é muito mais que uma cinebiografia. Ele apresenta um retrato angustiante de um momento em que a propagação da AIDS, associada ao preconceito que a doença e a homossexualidade despertavam, era contraposta à lentidão com que agiam os órgãos responsáveis pelos testes de novas medicações e sua liberação para consumo. Quem se beneficiava com isso era só a indústria farmacêutica ao criar uma demanda reprimida que, usando o desespero de pacientes à beira da aniquilação, não hesitava em lançar remédios subtestados e sobrevalorizados que intoxicavam os doentes ao mesmo tempo em que arruinavam suas contas bancárias.
Um filme imperdível e merecedor de Oscar, ainda mais quando a safra anda bastante fraca e sem grandes histórias para contar.


Avaliação: *****

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