segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Ponte dos Espiões (Bridge of Spies)

País: EUA
Ano: 2015
Gênero: Drama
Duração: 141 min
Direção: Steven Spielberg
Elenco: Tom Hanks, Mark Rylance, Austin Stowell, Scott Shepherd e Amy Ryan.

Sinopse: em plena Guerra Fria, o advogado especializado em seguros James Donovan (Tom Hanks) aceita uma tarefa muito diferente do seu trabalho habitual: defender Rudolf Abel (Mark Rylance), um espião soviético capturado pelos americanos. Mesmo sem ter experiência nesta área legal, Donovan torna-se uma peça central das negociações entre os Estados Unidos e a União Soviética, quando é enviado a Berlim para fazer um acordo para a troca de Abel por um prisioneiro americano, capturado pelos inimigos.

Crítica: um filme sobre a Guerra Fria, mas sem cenas eletrizantes, glorificações militares ou movimentos velozes de câmera. Na verdade, o longa explica didaticamente o embate entre EUA e União Soviética com muito diálogo (excelente texto), noções de soberania nacional, crise de patriotismo e emoções/conflitos de seus personagens.
A trama apresenta uma dupla ironia: quando um espião supostamente soviético é capturado nos Estados Unidos e outro americano é preso na URSS, um advogado sem ligações ao governo (Tom Hanks) é encarregado de efetuar a troca entre eles. Ambos os países fazem questão de repatriar seus conterrâneos, contudo desprezam estes homens que foram capturados (ou seja, fracassaram em permanecer invisíveis) e provavelmente entregaram informações confidenciais ao inimigo.
É louvável o cuidado do roteiro em equilibrar os dois lados da guerra. O protagonista é americano, claro, mas sua principal característica é trabalhar contra a moral vigente no país: o advogado James Donovan recusa-se a dar uma defesa fraca a seu cliente espião, e faz o possível para inocentá-lo, como qualquer advogado deveria fazer. As altas instâncias do direito americano são vistas como parciais e corruptas (a condenação do espião, para eles, é mera formalidade), enquanto o povo é retratado como um grupo de ignorantes sedentos por sangue. “Por que vocês simplesmente não o enforcam?”, gritam as pessoas ao redor de Donovan, indignados com a defesa de um espião.
Ponte dos Espiões adota um discurso político humanista e ousado. Ao invés de ter um “homem de ação” à frente da trama, o herói é um defensor dos direitos humanos e da superação dos preconceitos; por isso é contrário à pena de morte ao acusado. A verdadeira guerra ocorre dentro dos Estados Unidos, entre a maioria vingativa e a minoria capaz de enxergar no inimigo um outro de si mesmo. Este discurso é facilitado pela atuação segura e convincente de Tom Hanks (muito à vontade no papel, sem arroubos de valentia) e pelo espião misterioso Rudolf Abel (interpretado de forma louvável por Mark Rylance). Seu personagem rouba a cena. Bons momentos de humor surgem nas conversas entre ele e seu advogado, Donovan.
Mas o roteiro está impregnado de melancolia diante da falência do sistema moral e judicial, este último totalmente parcial e influente.
Spielberg optou por uma trilha sonora suave, cenas belas e bem enquadradas. Sequências mais fortes são poucas, mas intensas o suficiente para o público entender a mensagem.
Impecavelmente bem produzido, como sempre, e com um relevante discurso político e humano.

Avaliação: ****

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