segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

A Ilha do Milharal (Simindis kundzuli)

País: Geórgia/França/Casaquistão/Alemanha/República Tcheca
Ano: 2015
Gênero: Drama
Duração: 101 min
Direção: George Ovashvili
Elenco: İlyas Salman, Mariam Buturishvili e Irakli Samushia.

Sinopse: um velho camponês (İlyas Salman) se muda, com sua neta (Mariam Buturishvili) para uma pequena e deserta ilha no meio do rio Enguri, para plantar milho. O rio separa a Geórgia da Abecásia (Abkhazia) e já foi cenário de sangrentas lutas. Como soldados ainda surgem na região, o clima é de tensão. O rio cria e o rio destrói, em um ciclo eterno do qual ninguém pode escapar.

Crítica: é um filme belo, sensível e diferente. Aqui, o local e a estação do ano são os protagonistas da historia. São esses fatores que conduzirão os acontecimentos, são o motor que movem a rotina que se repete.
A câmera é certeira ao retratar cada particularidade na vida de um avô (Ilyas Salman) e sua neta (Mariam Buturishvili) que vivem sob uma ilha que pode ser inundada assim que as chuvas se iniciarem. Enquanto isso, precisam aproveitar o bom tempo e produzir. Aos poucos, nasce uma casa (são trazidas madeiras no barco em várias viagens), depois o milharal. O mínimo detalhe nesse filme retrata muito.
De vez em quando, o sossego é perturbado por militares, de lados opostos, que passam pelo rio.
São raros os diálogos. As cenas dialogam e os olhares contam. Avô e neta estão ilhados, frente à rotina inanimada dos anos e frente a uma guerra que não é deles.
Para entender melhor o solo em que se passa a história: o rio Enguri forma a fronteira entre a Geórgia e a República separatista da Abecásia. Toda primavera, o rio leva o solo fértil do Cáucaso até as planícies da Abecásia e do noroeste da Geórgia, criando pequenas ilhas, pequenas terras de ninguém.  
O diretor georgiano George Ovashvili investe na imagem enquanto narração visual que dá conta de quase todo o filme. As imagens pausadas tem função de contemplação. Geralmente planos abertos e aéreos desvelam o espaço tempo que se confunde nesse meio em que trabalho é progresso, faça chuva ou faça sol. A natureza em volta dá beleza às margens do rio, os sons locais favorecem a ambientação e as ações rotineiras carentes de diálogos nos colocam como testemunhas da semeadura que implica diretamente na transformação da menina, uma adolescente percebendo mudanças em seu corpo e em seus interesses. Toda essa simbologia é retratada de forma bem sensível.
Os diálogos pontuais e os gestos precisos fundamentam a trama; estes são breves, porém suficientes para esboçar o sentido de vivência e de idealizações por mudanças: a oportunidade de estudo da menina, por exemplo. É uma vida difícil. A cena inicial e a final são fundamentais para entender o ciclo que é mostrado.

Avaliação: ****


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