O Abraço da Serpente (El Abrazo de la Serpiente)
País: Colômbia/
Venezuela/ Argentina
Ano:
2015
Gênero: Aventura
Duração: 125
min
Direção: Ciro
Guerra
Elenco: Jan
Bijvoet, Brionne Davis, Nilbio Torres e Antonio Bolivar.
Sinopse: Théo (Jan Bijvoet) é um explorador europeu que conta com a
ajuda do xamã Karamakate (Nilbio Torres, quando jovem, e Antonio Bolivar - velho) para percorrer o rio Amazonas. Gravemente doente, ele
busca uma lendária flor que pode curar sua enfermidade. Quarenta anos depois, a
trilha de Théo é seguida por Evans (Brionne Davis), outro explorador que tenta convencer
Karamakate a ajudá-lo.
Crítica: premiado nos festivais de Cannes e Sundance,
“O Abraço da Serpente” está entre os cinco finalistas do Oscar 2016 de Melhor
Filme Estrangeiro, o que comprova a força do cinema colombiano.
Bem estruturado e filmado,
com um elenco convincente, e acima de tudo, com uma mensagem urgente e importante
que foca no que está sendo perdido e que ainda pode ser recuperado na cultura e
nas tradições indígenas da região amazônica da Colômbia.
Os relatos de dois
cientistas e exploradores da região são a base do roteiro. O etnólogo alemão
Theodor Koch-Grünberg (1862-1924) explorou a região amazônica da América do Sul
e estudou os povos da floresta. Morreu no Brasil, na cidade de Boa Vista, de
malária. Theodor estudou a mitologia, as lendas, a etnologia, a antropologia e a
história dos indígenas. Em 1917, publicou sua mais importante obra “De Roraima
ao Orinoco”. E o botânico norte-americano Richard Evans Schultes (1915-2001)
explorou a mesma região, interessado especialmente em uma planta, descoberta e
citada nos relatos de Koch-Grünberg: a yakruna.
Que sentido tem hoje para
todos nós a busca por uma planta divina que cura e ensina a sonhar? Essa foi a
razão de ser de uma expedição científica. Mas a yakruna, na realidade,
simboliza a própria existência de, pelo menos, um povo indígena que está
desaparecendo. O resgate do conhecimento dos povos na floresta, intimamente
relacionado à vivência com a selva, sua água, seus animais, sua multiplicidade
de plantas, envolve uma questão cultural, antropológica, da maior relevância.
“O Abraço da Serpente”
contribui para valorizar tudo isso, por meio de um personagem indígena que é o
centro da narrativa. Ele surge, primeiro em sua juventude, como último
sobrevivente de seu povo, vivendo isolado selva adentro. Desconfiado e crítico,
por razões óbvias, do homem branco e da exploração da borracha, que trouxe a
desgraça e dizimou seu povo. Depois, em outro tempo, como um xamã esquecido,
perdido na sua mata, vivendo problemas de identidade em decorrência das faltas
de referência e de memória. Essas duas épocas se entrelaçam na trama e funcionam
muito bem. Nos dois tempos, há o convívio complexo e conflitivo com os
cientistas exploradores. E também a possibilidade de aprender com brancos que
não desejam destruir os aborígenes ou explorá-los, mas conhecê-los,
valorizá-los, divulgar seus conhecimentos.
A narrativa se desenvolve
na forma de uma aventura, que traz perigos, desencontros e vai revelando o que
se encontra nessa floresta: o que resta de seus povos de origem, a exploração a
que estão expostos, o uso religioso equivocado e autoritário, encontrado em
alguns locais. Com direito a manifestações tresloucadas e messiânicas, que não
libertam, oprimem.
Outro detalhe que chama a
atenção é o fato da película ser em preto e branco. Com uma natureza tão
exuberante, creio que a intenção do diretor era que nossa observação ficasse centrada
na reflexão que a trama propõe, sem desvios para o lado estético.
O tempo é de grande
relevância no filme. Coisas, lembranças, memórias, são levadas pelo tempo.
Povos inteiros se desfazem e desaparecem. Pela ação predatória dos seres
humanos, toda uma tradição e uma identidade tendem a desaparecer. Se
considerarmos que metade da superfície da Colômbia está na região amazônica, há
aí uma forte perda do próprio significado de nacionalidade.
O elenco nos leva para
dentro dessa dimensão amazônica, como se estivéssemos fazendo parte daqueles
povos e dos exploradores que vêm do mundo desenvolvido, em busca de sua
cultura.
Avaliação:
****
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