Uma História de Loucura (Une Historie de Fou)
País: França
Ano:
2016
Gênero: Drama
Duração: 134
min
Direção: Robert
Guédiguian
Elenco: Simon
Abkarian, Ariane Ascaride, Grégoire Leprince-Ringuet e Syrus
Shahidi.
Sinopse: Berlim 1921. Talaat Pacha, a principal pessoa
por trás do genocídio armênio, é morto na rua por Soghomon Thelirian, cuja
família inteira foi exterminada. Sessenta anos mais tarde, Aram (Syrus Shahidi),
um jovem de ascendência armênia nascido em Marselha, explode o carro do
embaixador turco em Paris.
Crítica: o francês Robert Guédiguian sempre foi um
cineasta humanista, comprometido com as histórias dos operários, pescadores e
dos indivíduos desfavorecidos de modo geral. Com esta temática, ele criou
obras-primas como La Ville Est Tranquille (2000) e As Neves do Kilimanjaro
(2011), ambos muito simples em termos de produção, mas complexos na ambição
política e sociológica. Às vezes, projetos como estes são alternados com
grandes afrescos históricos, nos quais o cineasta obtém resultados mais
irregulares. É neste grupo que se encontra Uma História de Loucura.
O diretor se interessa mais
uma vez à questão do genocídio na Armênia, focando-se nos jovens armênios que
entram na luta armada, e consequentemente no terrorismo. Três histórias
paralelas questionam o custo das guerras e os limites da guerrilha como forma
de reparação histórica: 1. O jovem Aram (Syrus Shahidi), obcecado pela vingança
contra os turcos, organiza um atentado contra o embaixador da Turquia na
França, mas acaba afetando também um homem passando pelo local; 2. Esta vítima,
Gilles (Grégoire Leprince-Ringuet) perde o movimento das pernas e decide
conhecer o homem responsável por seu calvário, aproximando-se da família dele;
3. Os pais de Aram, o pacífico Hovannès (Simon Abkarian) e a revolucionária
Anouch (Ariane Ascaride) esperam pelo retorno do jovem guerrilheiro enquanto
acolhem a vítima dele como se fosse o próprio filho.
O roteiro pretende
compreender os lados de todas as pessoas envolvidas, criticando o extremismo,
mas vendo na vingança simbólica de Aram uma forma legítima de luta. Para deixar
claro que a abordagem não é pró-guerra, Guédiguian assina uma dedicatória na
conclusão, destinada justamente ao povo turco, numa tentativa de equilibrar o
discurso. Os momentos mais simples relembram as qualidades de As Neves do
Kilimanjaro: é comovente ver Gilles dormindo na cama de seu carrasco, enquanto
a mãe deste o observa à distância. As cenas mais simples são, de longe, as mais
bem-sucedidas. É uma pena que sejam minoritárias.
Uma História de Loucura
constitui, na essência, um melodrama de guerra padrão, com direito a todos os
clichês estilísticos e narrativos do gênero. Existe um longo flashback em preto
e branco, didático e recheado de números e datas, para explicar a história do
povo armênio. Entram em cena igualmente um romance pouco desenvolvido entre
dois guerrilheiros, fotos de família levando personagens às lágrimas, trilha
sonora profundamente sentimental, acertos de conta em ruas vazias, de
madrugada.
A construção da mise en
scène não é apenas convencional, ela é também bastante óbvia. Quando Vahé (Amir
El Kacem) entra no carro e sai logo depois, por ter esquecido um objeto em
casa, já se imagina que o veículo em questão esteja prestes a explodir – o que
ocorre na cena seguinte. Quando uma avó doente diz que pretende ter suas cinzas
espalhadas na Armênia, ela falece na mesma noite. Os diálogos se reduzem a
grandes frases de efeito, evocações de bravura ou explicações históricas. Não
estamos muito distantes das telenovelas, com sua divisão em núcleos e conflitos
movidos mais pela emoção do que pela lógica.
O longa é respeitável pelas
intenções e pelas atuações sempre competentes do elenco de colaboradores
regulares de Guédiguian. Mas o filme decepciona por ser excessivamente solene e
exemplar. Todos os personagens carregam o peso de representar grupos inteiros:
os guerrilheiros, os franceses, as famílias, os turcos... O cineasta ainda se
sai muito melhor quando limita o escopo de suas narrativas. É nas histórias
individuais que seu discurso soa mais universal.
Avaliação:
***
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