Eu, Mamãe e os Meninos (Les Garçons et Guillaume, à table)
País: França
Ano:
2013
Gênero: Comédia
Duração: 85
min
Direção: Guillaume
Gallienne
Elenco: Guillaume
Gallienne, André Marcon, Françoise Fabian, Diane Krueger e Reda Kateb.
Sinopse: a primeira lembrança que tenho da minha mãe
foi quando tinha 4 ou 5 anos. Ela nos chamava, meus dois irmãos e eu, para o
jantar dizendo: "Meninos e Guillaume, está na mesa!" e da última vez
que falei com ela pelo telefone, ela desligou me dizendo: "Um beijo, minha
querida"; pois é, digamos que entre essas duas frases, há alguns
mal-entendidos.
Crítica: o filme ganhou cinco prêmios César 2014,
incluindo melhor filme e melhor ator, para Guillaume Gallienne que também
escreveu o roteiro e dirigiu o filme. A comédia, que concorreu com filmes de
peso, como O Passado (de Asghar Farhardi), A Pele de Vênus (de Roman Polanski),
e Azul é a Cor mais Quente (de Abdellatif Kachiche), é mesmo excepcional e
merecedora de tanto reconhecimento.
Guillaume mescla, com
competência, teatro e cinema para contar a história autobiográfica de um jovem
francês que, pelos trejeitos e íntima ligação com a mãe, é desde a infância
considerado homossexual. Na narrativa, a encenação teatral em que o rapaz conta
essa história é entrecortada por reconstituições dos episódios narrados. Assim,
somos espectadores de duas narrativas: Guillaume contando sua história e
Guillaume vivendo sua história que também interpreta sua mãe.
Com sensibilidade, mesmo
que vez ou outra utilize-se de situações para fazer rir, o autor e habilidoso
ao construir uma trama inteligente e até mesmo sutil para falar sobre o
desenvolvimento sexual.
O personagem identifica-se
com o gênero feminino e começa a imitar o comportamento das mulheres que lhe
são mais interessantes: tias, amigas, etc. Mas e sua relação com o mesmo sexo?
Como de costume, Guillaume tem uma péssima ligação com o pai, que não aceita
sua afetação afeminada, e seus irmãos estão sempre distantes. Quando, no clube,
interessa-se por um rapaz, termina com o coração partido. Decepciona-se mais
uma vez na Inglaterra, onde vai para um colégio interno (e faz piadas
maravilhosas com o jeito de falar britânico). Quase se envolve numa orgia ao
conhecer um cara num clube gay, mas foge na hora H. Enfim, seus contatos
homossexuais nunca ocorrem de fato.
Quase no final, uma
surpresa: Guillaume descobre-se heterossexual. Na festa de uma amiga conhece
Amandine, por quem se apaixona de imediato. A partir daí, sua maior dificuldade
é enfrentar sua mãe: “Mãe, decidi escrever uma peça sobre um garoto que aprende
a aceitar sua heterossexualidade numa família que decidiu que ele era
homossexual”. Uma fala maravilhosa.
Assim, Guillaume aborda a
sexualidade com o nível de complexidade em que ela merece ser retratada. Com
humor, criatividade e, sobretudo, maturidade, questiona e supera preconceitos e
derruba estereótipos sobre as questões de gênero, numa conversa franca com a
plateia e em que muitos se identificam.
Esse rapaz, pela distinção
feita pela mãe desde a infância, chegou a sentir-se menina (“Mas eu não sou
homo, eu sou sua filha!”) e durante toda a vida buscou respostas às inquietações
encarando com coragem suas questões sexuais.
Ao final, Guillaume percebe
que o mal de sua mãe foi transferir a ele suas inseguranças, sobretudo as de
abandono. O garoto cresce, enfrenta seu medo e toma as rédeas da sua vida,
assumindo sem medo que ele como qualquer um pode ter seu lado feminino e masculino.
Não é isso que torna alguém heterossexual ou homossexual.
Avaliação: ****
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