O Julgamento de Viviane Amsalem (Gett)
País: França/Israel/Alemanha
Ano:
2014
Gênero: Drama
Duração: 116
min
Direção: Shlomi
Elkabetz e Ronit Elkabetz
Elenco:
Ronit Elkabetz, Menashe Noy, Simon Abkarian e Sasson Gabai.
Sinopse: em Israel, somente os rabinos tem o poder de
firmar ou dissolver um casamento. Mas esta última opção só se concretizará se
houver total consentimento do marido. Viviane Amsalem (Ronit Elkabetz) está
pedindo um divórcio há três anos, mas seu marido, Elisha (Simon Abkarian), a
nega. A intransigência do marido e a determinação de Viviane em lutar por sua
liberdade dão o contorno deste processo.
Crítica: em Israel, de acordo com as leis religiosas,
um casal apenas pode se divorciar com o consentimento do marido. É ele quem
decide se a mulher pode ou não ficar “livre para outros homens”. A película questiona este princípio ortodoxo através da história de uma
esposa que luta, durante cinco anos, para obter o divórcio de um marido
controlador. Como ele se recusa a conceder a separação, os rabinos e juízes
nada podem fazer para resolver o caso.
É interessante destacar que
o roteiro não apresenta fatos agravantes para justificar o divórcio. Nenhuma
violência doméstica, infidelidade ou abandono é introduzido na trama para
sustentar o pedido. Viviane (Ronit Elkabetz, em ótima performance e que também dirige o filme) deseja abandonar o marido por falta de amor. “Isso
é irrelevante”, responde um dos juízes. Mas a trama foca justamente no
contrário: o absurdo de o amor ser ignorado pelas leis religiosas repletas de
justificativas pró-casamento. Ora, se o marido não bate na esposa, se ele
fornece os bens materiais necessários à vida do casal, ela não tem motivos
palpáveis para requerer o divórcio. A religião judaica, machista como todas as
três grandes religiões (cristianismo e islamismo incluídos), faz da mulher uma
possessão do homem.
Viviane não é uma pobre vítima, Elisha (Simon Abkarian) não é um monstro. Os juízes
também não são pessoas perversas e maldosas; eles apenas seguem uma ideologia
que os precede, sem questionamento. Isso torna a mecânica desta história tão
fascinante: todos estão presos a uma lei (divina e humana) que não se adaptou à
evolução social. Viviane é apresentada como uma mulher moderna, embora não
revolucionária, apoiada por um advogado idealista (Menashe Noy, em uma atuação
espetacular) e contestador, por não usar o quipá diante de autoridades
religiosas.
Outro ponto de destaque no
longa é que ele se passa inteiro dentro de um tribunal. Nenhum personagem
abandona os cômodos brancos e minimalistas da sala de julgamento e da sala de
espera. O recurso teatral poderia ser monótono, mas os cineastas adotam uma
abordagem expressiva e dinâmica dos planos e da montagem. A sucessão do tempo
indicado na tela (“dois meses mais tarde”, “três meses mais tarde”) ajudar-nos
a situar no tempo e nos deixar perplexos com uma situação tão absurda. Afinal,
para a maioria das pessoas, divórcio é divórcio. Acabou, acabou.
Os movimentos e as
expressões são muito bem captados nesse pequeno espaço em que ocorre a
história. Os olhares são tristes, raivosos, comoventes. Os atores estão todos
exemplares em seus papeis. Seus rostos marcam-nos e não conseguimos deles desviar.
Os diálogos dinâmicos e a participação de outras pessoas no julgamento (como as
testemunhas) nunca deixam o ritmo cair. E a cena final é bastante emocionante.
Uma obra extremamente humana
e que levante muitos debates.
Avaliação:
****
0 comentários:
Postar um comentário