segunda-feira, 30 de novembro de 2015

O Julgamento de Viviane Amsalem (Gett)

País: França/Israel/Alemanha
Ano: 2014
Gênero: Drama
Duração: 116 min
Direção: Shlomi Elkabetz e Ronit Elkabetz
Elenco: Ronit Elkabetz, Menashe Noy, Simon Abkarian e Sasson Gabai.

Sinopse: em Israel, somente os rabinos tem o poder de firmar ou dissolver um casamento. Mas esta última opção só se concretizará se houver total consentimento do marido. Viviane Amsalem (Ronit Elkabetz) está pedindo um divórcio há três anos, mas seu marido, Elisha (Simon Abkarian), a nega. A intransigência do marido e a determinação de Viviane em lutar por sua liberdade dão o contorno deste processo.

Crítica: em Israel, de acordo com as leis religiosas, um casal apenas pode se divorciar com o consentimento do marido. É ele quem decide se a mulher pode ou não ficar “livre para outros homens”. A película questiona este princípio ortodoxo através da história de uma esposa que luta, durante cinco anos, para obter o divórcio de um marido controlador. Como ele se recusa a conceder a separação, os rabinos e juízes nada podem fazer para resolver o caso.
É interessante destacar que o roteiro não apresenta fatos agravantes para justificar o divórcio. Nenhuma violência doméstica, infidelidade ou abandono é introduzido na trama para sustentar o pedido. Viviane (Ronit Elkabetz, em ótima performance e que também dirige o filme) deseja abandonar o marido por falta de amor. “Isso é irrelevante”, responde um dos juízes. Mas a trama foca justamente no contrário: o absurdo de o amor ser ignorado pelas leis religiosas repletas de justificativas pró-casamento. Ora, se o marido não bate na esposa, se ele fornece os bens materiais necessários à vida do casal, ela não tem motivos palpáveis para requerer o divórcio. A religião judaica, machista como todas as três grandes religiões (cristianismo e islamismo incluídos), faz da mulher uma possessão do homem.
Viviane não é uma pobre vítima, Elisha (Simon Abkarian) não é um monstro. Os juízes também não são pessoas perversas e maldosas; eles apenas seguem uma ideologia que os precede, sem questionamento. Isso torna a mecânica desta história tão fascinante: todos estão presos a uma lei (divina e humana) que não se adaptou à evolução social. Viviane é apresentada como uma mulher moderna, embora não revolucionária, apoiada por um advogado idealista (Menashe Noy, em uma atuação espetacular) e contestador, por não usar o quipá diante de autoridades religiosas.
Outro ponto de destaque no longa é que ele se passa inteiro dentro de um tribunal. Nenhum personagem abandona os cômodos brancos e minimalistas da sala de julgamento e da sala de espera. O recurso teatral poderia ser monótono, mas os cineastas adotam uma abordagem expressiva e dinâmica dos planos e da montagem. A sucessão do tempo indicado na tela (“dois meses mais tarde”, “três meses mais tarde”) ajudar-nos a situar no tempo e nos deixar perplexos com uma situação tão absurda. Afinal, para a maioria das pessoas, divórcio é divórcio. Acabou, acabou. 
Os movimentos e as expressões são muito bem captados nesse pequeno espaço em que ocorre a história. Os olhares são tristes, raivosos, comoventes. Os atores estão todos exemplares em seus papeis. Seus rostos marcam-nos e não conseguimos deles desviar. Os diálogos dinâmicos e a participação de outras pessoas no julgamento (como as testemunhas) nunca deixam o ritmo cair. E a cena final é bastante emocionante.
Uma obra extremamente humana e que levante muitos debates.

Avaliação: ****

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