sábado, 10 de janeiro de 2015

Ida

País: Polônia/Dinamarca
Ano: 2013
Gênero: Drama
Duração: 80 min
Direção: Pawel Pawlikowski
Elenco: Agata Kulesza, Agata Trzebuchowska e Halina Skocznska.

Sinopse: a jovem noviça Anna (Agata Trzebuchowska) está pronta para prestar seus votos e se tornar freira, só que antes disso, por insistência da Madre Superiora (Halina Skoczynska), vai visitar a única familiar restante: tia Wanda (Agata Kulesza), uma mulher cínica e mundana, defensora do Partido Comunista, que revela segredos sobre o seu passado. O nome real de Anna é Ida, e sua família era judia, capturada e morta pelos nazistas. Após essa revelação, as duas resolvem partir em uma jornada de autoconhecimento, para descobrir o real desfecho da história da família e onde cada uma delas pertence na sociedade.

Crítica: o filme todo filmado em preto e branco é o escolhido como representante da Polônia na corrida pelo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2015.
Ida apela a uma profunda reflexão sobre religiões, família, passado e presente, e, principalmente, que implicações pode ter esse passado nas decisões futuras. Por mais que a trama foque em uma espécie de reencontro com o passado, o grande objeto da narrativa é a jornada de uma jovem que inicia a vida adulta e é obrigada a conviver com erros e decepções.
Tudo acontece na Polónia dos anos 60, onde Anna é uma noviça, prestes a celebrar os votos definitivos para se tornar freira no convento onde vive desde que ficou órfã em criança. Contudo, antes da celebração, a madre obriga-a a conhecer a única familiar viva, a tia Wanda. Juntas, as duas mulheres embarcam numa viagem à descoberta de si próprias e do passado que têm em comum.
Ida surpreende-nos pela sua abordagem forte, mas sem juízos de valor. Tal como Anna, saímos da essência da religião católica para conhecer o seu passado, as suas origens e a tragédia em redor da sua família. Anna descobre um mundo novo, a sua nova realidade, o seu verdadeiro eu. Afinal, a identidade religiosa de cada um pode viver independente do passado e na ausência da experiência ou constrói-se à medida que cada um cresce enquanto pessoa, conhecendo-se primeiro a si e ao mundo? A reflexão fica lançada para o lado do espectador, mas cabe à jovem protagonista tomar as decisões.
Ao conhecer Wanda, Anna fica exposta a uma realidade que desconhece. A tia é o oposto da sobrinha. Uma mulher magoada, de vida vulgar, que introduz, inevitavelmente, Anna às tentações do mundo. A inocência e pureza guardadas tantos anos num convento são agora postas à prova com a convivência entre estas duas mulheres tão diferentes mas de personalidade definida.
Ao passarem alguns dias juntas, elas se conhecem melhor. Ambas trazem novos pontos de vista, novas experiências, ambas lutam por dar dignidade aos familiares mortos. Os opostos atraem-se também nas relações familiares, ao que aqui parece. Crentes em diferentes religiões, tia e sobrinha são um desafio mútuo. Wanda, juíza de profissão, assume uma função quase divina, já que tem (ou teve) o poder de decidir o destino de muitos, inclusive, condenando à morte. Anna, por seu lado, ingénua e submissa, é um desafio para uma mulher aguerrida como Wanda. Cada uma delas é para a outra a personificação daquilo em que não acreditam ou defendem. As duas mulheres trazem reciprocamente mudanças fundamentais, para o melhor e para o pior.
Personagens complexos, cenas belas e muito para responder. Qual decisão tomar na vida? Eis a questão.
O diretor mergulha por entre as sequelas do nazismo, por entre os dilemas da religião, na experiência e no conhecimento da vida. Pawel Pawlikowski baseou-se em sua própria história para o filme. Sua mãe era católica, seu pai era judeu, e mais tarde ela descobriu que sua avó tinha morrido em Auschwitz.

Avaliação: ****


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