domingo, 26 de julho de 2015

Passaporte para a Vida (Laissez-passer)

País: França/Alemanha
Ano: 2002
Gênero: Drama
Duração:170 min
Direção: Bertrand Tavernier
Elenco: Jacques Gamblin, Denis Podalydès, Charlotte Kady, Marie Desgranges, Simone Devaivre, Ged Marlon, Philippe Morier-Genoud e Laurent Schilling.

Sinopse: durante a ocupação alemã na França, na Segunda Guerra Mundial, uma empresa germânica começa a produzir filmes franceses. Jean-Devaivre (Jacques Gamblin) é um assistente de direção que decide trabalhar na Continental com o intuito de disfarçar suas atividades na resistência. Ele é um homem de ação. Já o roteirista Jean Aurenche (Denis Podalydès) prefere recusar todas as ofertas feitas pelos alemães. É um homem reflexivo, que se encontra dividido entre as três amantes, e que faz da escrita a sua forma particular de negar-se ao cerco nazista.

Crítica: a França, ocupada pelos alemães durante a Segunda Guerra, era um lugar de incertezas, assim como todo país ameaçado pela invasão, e mais inóspito ainda para a atividade artística. É nesse cenário que se passa a trama, onde relações e sentimentos são confusos, onde tomar a atitude certa é difícil.
O mundo estava em guerra, Hitler avançava com suas tropas e os cidadãos franceses amargavam os reveses do conflito no dia-a-dia, como a fome, o desemprego e a indignidade de ver sua nação subjugada.
Tarvernier queria fazer um filme que se passasse durante a ocupação e tivesse como pano de fundo a produção cinematográfica. Para isso, cruzou as vivências de dois personagens reais, o roteirista Jean Aurenche e o diretor Jean-Devaivre, e extraiu de suas experiências um surpreendente e elucidativo panorama sócio-artístico-político do período.
No filme, Aurenche (Denis Podalydès) e Devaivre (Jacques Gamblin, vencedor do prêmio de Melhor Ator em Berlim pelo papel), se veem diante de um dilema: continuar a fazer o que amam ou se recusarem a contribuir com os alemães. Com o país em crise, uma das poucas opções de trabalho está no estúdio Continental, de propriedade alemã. 
O pragmático Devaivre, assistente de direção na época, une o útil ao agradável ao aceitar um emprego no estúdio. Além de conseguir alguma renda para a família, lá é o lugar perfeito para camuflar sua atividade clandestina na resistência. Aurenche, mais impulsivo e rebelde, tenta a todo o custo não aceitar um trabalho dos alemães, enquanto se vê às voltas com sua agitada vida amorosa. Para ajudar um amigo, acaba aceitando trabalhar para a Continental e descobre ser possível fazer resistência com uma caneta na mão.
Em torno deles, outros diversos personagens pontuam o filme com suas histórias peculiares de luta. Uns se dedicando com afinco à profissão - driblando as adversidades e falta de recursos como maneira de manter o orgulho vivo -, outros se arriscando em atividades subversivas e de contestação, e tantos mais apenas preocupados com a próxima refeição do dia. Mas o filme não os julga, apenas os retrata.
Nada é linear e previsível, assim como a vida incerta das pessoas retratadas na história.  
Uma obra bem dirigida e com um roteiro capaz de envolver o espectador com cada personagem (boas atuações). Ao final, uma homenagem aos cineastas, roteiristas, técnicos e atores que fizeram cinema em terreno estéril com criatividade e muita persistência.

Avaliação: ***

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