sexta-feira, 24 de julho de 2015

Uma Nova Amiga (Une Nouvelle Amie)

País: França
Ano: 2014
Gênero: Drama
Duração: 107 min
Direção: François Ozon
Elenco: Romain Duris, Anaïs Demoustier, Raphaël Personnaz e Isild Le Besco.

Sinopse: Claire tinha Laura como sua melhor amiga. Parceiras desde a infância, as duas eram inseparáveis. Quando Laura fica doente e morre, Claire se aproxima de seu marido, David, e surpreende-se ao descobrir o segredo íntimo do viúvo.

Crítica: antes de tudo, é um filme muito interessante que vai fundo nas relações humanas: dúvidas, angústias, desejo, percepção, imaginação, realidade. Em geral, Ozon critica a família burguesa, suas composições tradicionais e seus demarcados papeis sociais e valores morais, e aqui não é diferente.
No filme, Claire (Anaïs Demoustier), cuja melhor amiga, Laura (Isild Le Besco) morre tragicamente, deixando David (Romain Duris, soberbo no papel) viúvo com um filha recém-nascida, resolve cumprir sua promessa de infância a amiga e cuidar de David e de sua filha.
O longa tem início com cenas rápidas de infância em que Claire e Laura fazem juramento de amizade, depois vem a adolescência e os primeiros amores – Laura sempre sendo a mais cortejada e Claire, tímida, ficando de lado – até que ficam adultas e se casam. Laura, primeiramente, com David e, posteriormente, Claire com Giles (Raphaël Personnaz).
Bom ... quando Laura morre, Claire sofre com sua ausência e com a promessa que fez de dar apoio à filha e ao marido da amiga. Um dia decide ir até a casa de David e, para sua surpresa, o vê vestido de mulher, de salto alto e maquiagem, dando mamadeira para a filha. Então, David revela que tinha o costume de se vestir de mulher desde antes do casamento e, agora, após o falecimento da esposa, a vontade voltou de forma arrebatadora, talvez por se sentir mais próximo dela dessa forma e passar à filha a sensação de ainda ter mãe. E ele nunca escondeu isso de Clara. Ela sabia e o aceitou. David, heterossexual convicto, gosta simplesmente de se vestir de mulher dentro de casa. O travestimento torna-se prova de amor.
A princípio, a relação de amizade dos dois se fortalece como forma de manter a lembrança de Laura viva. Porém, enquanto David, que passa a viver também com o codinome Virginia, fica cada vez mais à vontade com sua nova identidade, Claire entra num turbilhão de questionamentos. É como se ela, agora já sem Laura por perto, também buscasse em si a mulher que não pôde ser enquanto era eclipsada. O filme retrata isso aumentando o tom do mistério e incluindo fantasias eróticas na mente da personagem.
Os conflitos evoluem e situações oscilam entre o suspense e a comédia, mas tudo de forma branda, sem exageros. Há lugar até para a poesia. Em uma cena, David e Claire (com atuações marcantes de Duris e Demoustie) vão a um cabaré e assistem à apresentação de uma transformista. A letra de música é forte e adequada ao momento e interpretada, de forma comovente.
Ozon retrata bem a psicologia da sexualidade, a capacidade do humano de se transformar, por estar em constante mutação, mas ao mesmo tempo a dificuldade em lidar com os desejos sexuais que acaba por reprimir. Um filme, de fato, acima da média, e que vem em boa hora, sobretudo após manifestações contra casamentos gays na França.
Uma curiosidade: “Uma nova amiga”, é uma adaptação do conto “The new girlfriend”, da inglesa Ruth Rendell. A escritora morreu em maio deste ano, aos 85 anos, e também utilizava o pseudônimo Barbara Vine. Suas histórias de suspense e mistério renderam outros filmes, como “Carne Trêmula”, de Pedro Almodóvar, e “Mulheres Diabólicas”, de Claude Chabrol.

Avaliação: ****

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