O Outro Lado da Esperança (Toivon Tuolla Puolen)
País: Finlândia
Ano:
2016
Gênero: Drama
Duração: 110
min
Direção: Aki
Kaurismäki
Elenco:
Sherwan Haji, Sakari Kuosmanen e Ilkka Koivula.
Sinopse: Khaled (Sherwan Haji) fugiu da guerra na Síria
e foi buscar asilo na Europa. Depois de percorrer vários países, solicita a
permissão de estadia na Finlândia. Enquanto espera pela resposta, busca pela
irmã, desaparecida, e consegue a ajuda de um pequeno comerciante, Wisktröm
(Sakari Kuosmanen), que aceita empregá-lo em seu pequeno restaurante.
Crítica: temas sociais tratados de forma direta, mas
com um humor tragicômico. É o que se vê na obra finlandesa. A violência se
disfarça em seus personagens caricatos; as situações se passam em cenários que parecem
teatrais. Mas o resultado é incrível.
O roteiro ilustra a crise
de refugiados na Europa, começando com a imagem de um homem surgindo das cinzas,
Khaled (Sherwan Haji), imigrante sírio que foge do país e percorre diversas
nações, sem conseguir se estabelecer, até chegar à Finlândia. Recusando a
condição de imigrante ilegal, efetua um pedido de asilo político. Enquanto
espera pela resposta, leva uma vida miserável pela cidade e descobre uma
cultura diferente da sua. Um ponto de apoio é o pequeno empresário Wikström
(Sakari Kuosmanen) que, embora não seja um grande humanista, acaba ajudando o
homem à porta de seu restaurante. Outra ajuda (moral) que recebe é de um
iraquiano, que há um ano aguarda o visto para poder trabalhar e/ou contribuir
de alguma forma com o país.
Um mérito do longa é não
deixar que a comicidade sugira um caminho leve para Khaled. A descrição feita
pelo imigrante sobre sua jornada é longa, cruel, em longos planos, para o
personagem ter tempo de contar em detalhes o que viveu e que ainda pretende
encontrar a irmã para também trazê-la para a Finlândia. O humor nasce não de
seu sofrimento, mas do tratamento absurdo que recebe. Cenas com neonazistas, com
burocratas da polícia e com o governo, além de empregadores que abusam da sua
fragilidade financeira. O personagem responde a todos esses ataques com um
rosto absolutamente impassível e aceitando tudo.
O diretor associa a crise
de refugiados ao funcionamento do capitalismo. Ambos os temas são
alvo de chacota. A compra do restaurante, a distribuição de dinheiro entre os
funcionários e o empréstimo feito a Khaled tornam-se momentos hilários por
explicitarem um mecanismo tacitamente aceito na sociedade: quando o jovem sírio
pede dinheiro emprestado, Wikström lhe dá duas notas de vinte euros, contudo
logo retira uma nota das mãos do outro. “São os impostos”, explica. As
transformações patéticas do restaurante para se tornar mais rentável e a
tentativa de encaixar o novo funcionário numa minúscula dispensa servem a
explicitar um mecanismo de opressão e exploração. É a única maneira encontrada
de ele ali permanecer.
O filme abusa da música
regional e traz graça a algo que é incômodo, sobretudo no momento atual. Ponto
para o Aki Kaurismäki.
Avaliação:
****
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