terça-feira, 7 de novembro de 2017

O Outro Lado da Esperança (Toivon Tuolla Puolen)

País: Finlândia
Ano: 2016
Gênero: Drama
Duração: 110 min
Direção: Aki Kaurismäki
Elenco: Sherwan Haji, Sakari Kuosmanen e Ilkka Koivula.

Sinopse: Khaled (Sherwan Haji) fugiu da guerra na Síria e foi buscar asilo na Europa. Depois de percorrer vários países, solicita a permissão de estadia na Finlândia. Enquanto espera pela resposta, busca pela irmã, desaparecida, e consegue a ajuda de um pequeno comerciante, Wisktröm (Sakari Kuosmanen), que aceita empregá-lo em seu pequeno restaurante.

Crítica: temas sociais tratados de forma direta, mas com um humor tragicômico. É o que se vê na obra finlandesa. A violência se disfarça em seus personagens caricatos; as situações se passam em cenários que parecem teatrais. Mas o resultado é incrível.
O roteiro ilustra a crise de refugiados na Europa, começando com a imagem de um homem surgindo das cinzas, Khaled (Sherwan Haji), imigrante sírio que foge do país e percorre diversas nações, sem conseguir se estabelecer, até chegar à Finlândia. Recusando a condição de imigrante ilegal, efetua um pedido de asilo político. Enquanto espera pela resposta, leva uma vida miserável pela cidade e descobre uma cultura diferente da sua. Um ponto de apoio é o pequeno empresário Wikström (Sakari Kuosmanen) que, embora não seja um grande humanista, acaba ajudando o homem à porta de seu restaurante. Outra ajuda (moral) que recebe é de um iraquiano, que há um ano aguarda o visto para poder trabalhar e/ou contribuir de alguma forma com o país.
Um mérito do longa é não deixar que a comicidade sugira um caminho leve para Khaled. A descrição feita pelo imigrante sobre sua jornada é longa, cruel, em longos planos, para o personagem ter tempo de contar em detalhes o que viveu e que ainda pretende encontrar a irmã para também trazê-la para a Finlândia. O humor nasce não de seu sofrimento, mas do tratamento absurdo que recebe. Cenas com neonazistas, com burocratas da polícia e com o governo, além de empregadores que abusam da sua fragilidade financeira. O personagem responde a todos esses ataques com um rosto absolutamente impassível e aceitando tudo.
O diretor associa a crise de refugiados ao funcionamento do capitalismo. Ambos os temas são alvo de chacota. A compra do restaurante, a distribuição de dinheiro entre os funcionários e o empréstimo feito a Khaled tornam-se momentos hilários por explicitarem um mecanismo tacitamente aceito na sociedade: quando o jovem sírio pede dinheiro emprestado, Wikström lhe dá duas notas de vinte euros, contudo logo retira uma nota das mãos do outro. “São os impostos”, explica. As transformações patéticas do restaurante para se tornar mais rentável e a tentativa de encaixar o novo funcionário numa minúscula dispensa servem a explicitar um mecanismo de opressão e exploração. É a única maneira encontrada de ele ali permanecer.
O filme abusa da música regional e traz graça a algo que é incômodo, sobretudo no momento atual. Ponto para o Aki Kaurismäki.

Avaliação: ****

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